segunda-feira, 2 de julho de 2018

Perdemos o Gustavo.

Voltámos de férias e o primeiro post no blogue não vai ser sobre as nossas maravilhosas férias. Quero fazer-vos inveja, mas antes tinha de vos escrever sobre isto que aconteceu comigo, para eu desabafar mas também para vos alertar.
Foram apenas segundos, mas foram os piores segundos da minha vida.
Alguém já viu uma notícia sobre uma criança que desapareceu junto dos pais e pensou que isso era impossível se eles estivessem atentos? Eu já. Antes de ser mãe é certo, mas já.
No dia do jogo de Portugal decidimos ir jantar fora para ver o jogo. Descobrimos um restaurante barato muito calmo e com um largo para o Gustavo estar a brincar com a sua bola e o seu carrinho. Iamo-nos revezando e enquanto eu comia e via o jogo, o pai brincava com ele, e vice-versa. Também tínhamos as irmãs para ajudar no processo. Ele é um bebé incrivelmente irrequieto e costumamos fazer assim.
O Gustavo fartou-se de jogar à bola mesmo ao nosso lado, as irmãs iam jogando com ele, depois eu, depois o pai, tudo tranquilo. Ele ia fazendo as suas gracinhas que faziam as delícias dos restantes clientes do restaurante. O restaurante era pequeno e estávamos na esplanada de onde o víamos sempre muito bem, e mesmo assim um de nós estava sempre a brincar com ele.
Acabei por me sentar num sofá a uns 10 metros da mesa onde o pai e as irmãs estavam a jantar, para contar uma história ao rapaz. As irmãs acabaram de comer e vieram para junto de nós. Estava a ficar frio, levantei-me para ir buscar uma muda de roupa para o miúdo e avisei as irmãs para ficarem com ele.
A muda de roupa estava na nossa mesa, muito perto desse sofá, apenas a uns escassos passos de distância. Não tinha passado nem um minuto, quando peguei no saco com a roupa e olhei para o sofá. Não estava lá ninguém. Foi tudo tão rápido que nem percebi bem. Sei que depois ao meu lado estavam a Gabriela e a Matilde. Mas o Gustavo não. Acho que também não percebi logo isso. "O vosso irmão?" , perguntei-lhes eu. Elas começaram a olhar em volta. Acho que elas nesses segundos também não estavam a perceber nada, acho que nem se lembram de terem saído do sofá, ou se ele tinha saído com elas. O Zé olhou começou a olhar à volta e nada de Gustavo. Só aí eu percebi que não sabia do meu filho. Pode parecer que passou imenso tempo, mas ainda nem um minuto tinha passado desde que eu o tinha deixado com as irmãs.
As pessoas do restaurante, que eram todas estrangeiras, começaram a aperceber-se da nossa aflição. Nenhuma falava português. Um senhor apontou para a parte de trás da nossa mesa, a uns 5 metros de nós, e lá estava ele sentado no chão super tranquilo a brincar. Peguei nele ao colo e senti-me a desfalecer. Ele estava mesmo ali perto de nós, mas não o vimos. Mas e se ele tivesse andado mais? E se o tivessem levado? E se ele se tivesse perdido ou magoado? Estes "e se" estão a dar cabo de mim. Perdi o meu filho durante 30 segundos. E aqueles pais que perdem para sempre? 
Em menos de um minuto perdi-o de vista. É o tempo de estender a toalha na praia. É o tempo de pagarmos a conta num restaurante. É o tempo de apanhar um papel do chão. É um piscar de olhos o bastante para eles nos desaparecerem. E sim, pode acontecer a toda a gente. A toda a gente que tenha uma criança a seu cargo e não a prenda com uma trela. Fiquei com vontade de por um chip ao meu filho, juro que fiquei.



O maroto antes de desaparecer


4 comentários:

  1. Tb vivi um momento de aflição com a Gabi... Um minuto pareceu-me uma eternidade e fiquei sem chão... Parecia uma maluca!!!

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  2. Sei o que é essa aflição... Numa tarde de inverno fomos a um shopping como eu lhe chamou um pouco mais familiar, nada daqueles centro comerciais gigantes em que quase que se tem de falar aos gritos de tanta gente que tem... Voltando a questão estávamos nesse shopping, eu a minha irmã o meu marido e minha filha de 4 anos. Entramos numa loja de roupa, a minha irmã tinha ido a secção de criança e eu tinha ficado na de mulher que era logo a entrada, a minha pequena disse mãe vou ter com a tia, como a loja estava quase vazia, deixei-a ir. Meteu se na brincadeira com a tia a jogar as escondidas, até que passado uns bons minutos resolve esconder se na parte de trás das calças de mulher. Bem que a chamamos,mas ela não respondia, tinha a certeza que tinha que estar dentro da loja pois eu estava a entrada e ela por ali não fronha passado. Mandei o meu marido ir aos provadores ver, até que a minha irmã vê os pés dela escondidos atrás das calças de ganga... Foram breves segundos que a mim pareceu horas, uma aflição que nem consigo descrever, mas no fim tudo correu bem,quantia vi, abracei-a com tá tá força que mais um pouco magoava-a, chorei ao pensar que há pais que perdem os filhos e nunca mais os encontram. Eu e a minha filha tivemos uma conversa muito séria sobre brincar as escondidas nas lojas e sobre os perigos. Desculpem o texto tão longo. E quanto ao Gustavo ainda bem que também não passou de um susto.

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  3. A mim o que mais me marcou na minha situação foi precisamente pensar nas crianças que efetivamente desaparecem mesmo... que dor. Agradeço muito a sua partilha. Um beijinho.

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  4. Em Julho de 2017 estava eu e a minha família numa praia em Setúbal (regressávamos de umas férias no Algarve, rumo ao norte, mas decidimos parar um dia em Setúbal para a viagem não ser muito cansativa), não tenho a certeza se era a Praia da Figueirinha (penso que sim), sei que não tinha "saída"... Estávamos muito tranquilos, o meu filho (com quase 6 anos) estava na água, eu estava na toalha como sempre e o meu marido estaria também na água. Eu estava a uns metros (muito poucos) da água, quando nos apercebemos de uma família atrás de nós muito aflita. Percebemos imediatamente que estavam à procura de uma criança pequena.
    O menino teria uns 3 anos era filho de emigrantes portugueses na Alemanha, mal falava português. A descrição dele era criança com calções de banho azuis e uma bóia na mão (não são assim quase todos os meninos na praia?). Desapareceu quando o pai lhe disse para ir para a toalha (que estaria no máximo a uns 10 metros da água), quando o pai uns minutos depois chega junto dos familiares, o menino nunca lá tinha chegado. A certa altura já o pai corria para um lado, a mãe para o outro, a avó para outro lado. A água ficou literalmente sem ninguém, uma vez que todos começaram a procurá-lo (zona de estacionamento, restaurante, areal), o avô que estava ainda com outro bebé no colo que não teria sequer um ano, andava para um lado e para outro, aflito. De repente começam a dizer que a criança apareceu, os pais correm, não é o filho deles e começam todos a procurá-lo novamente.
    Toda a situação (muito aflitiva para quem assistiu) ainda terá durado uma meia hora, não sei precisar porque ficamos todos muito nervosos.
    Novamente dizem que o encontraram... O pai ou a mãe (já não me recordo), correm para ver e era o menino, o Jonas (nunca mais me esqueci do nome dele!). Toda a gente a bater palmas, todos suspiram de alívio.
    O menino cuja família estava no inicio da praia, fora encontrado ainda a caminhar junto ao fim da mesma praia, com a bóia na mão, foi essa mesma bóia que ajudou a que quem o encontrou, percebesse que era ele. Julgo que ele caminhou sempre por estar à procura da toalha da família, o que ele não percebeu é que estava a caminhar na direção errada. Felizmente acabou bem, mas marcou a quem assistiu... o meu filho passado meses, quando falávamos das férias ele não falava no Algarve, mas do menino que se perdeu na praia. Eu só pensava na aflição deles. Desde que fui mãe este tipo de situações tocam-me particularmente porque imagino sempre o meu filho no lugar dessas crianças. Ainda agora, quase 2 anos depois, ao estar a contar a situação, fico sem fôlego só de reviver isto.

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