domingo, 22 de julho de 2018

O meu amigo foi pai. Ainda não fui visitar a bebé.

Eu lembro-me de como foi comigo.
Já tinha dito que não queria grandes acampamentos no hospital. E mesmo depois em casa queria sossego. Eu entendo que um bebé é algo maravilhoso principalmente vindo de quem amamos, mas às vezes quase dá a sensação de ser um objeto de decoração que todos querem apreciar, sem pensar nele e na recém mamã. Sim porque quando nasce um bebé, a mamã que o carregou nove meses é facilmente esquecida.
O Gustavo nasceu de noite, por isso apesar de radiante eu não estava funcional. Foram horas e horas seguidas sem dormir, para depois passar a dormir apenas umas míseras horas por dia e não seguidas.
Ter um filho tem tanto de maravilhoso como de assustador. De repente temos algo nos nossos braços, e principalmente se for o primeiro ficamos a olhar para aquela mini pessoa a pensar "Ok. E agora? Já sou mãe. Mas sinto-me igual".
No hospital há pouco sossego entre médicos e enfermeiros a entrar e a sair do quarto para garantir que está tudo bem com a mãe e o bebé, portanto nos tempos em que isso não acontecia só queria estar sozinha.
Horas após o bebé nascer mandei mensagem apenas aos amigos mais chegados com a informação relativa ao quarto onde estava. Uma amiga respondeu-me algo do género: Minha querida, parabéns e desfruta. Este tempo é teu e vosso. Daqui a umas semanas vou visitar-vos.
Como assim? A minha amiga não me queria ver nem a mim nem ao meu filho?? Pois não. E ainda bem.
Rapidamente percebi a mensagem dela. As dores começaram a ser insuportáveis (ainda devia estar com efeitos da anestesia), o sono começou a apoderar-se de mim e as hormonas decidiram vir brincar. Não conseguia comer, só conseguia chorar, não queria ter ali ninguém. 
Pedi ao Zé para avisar duas amigas que tinham ficado de me ir ver para afinal não irem. Elas respeitaram.
Ter um filho é muito bom, mas nada nos prepara para os primeiros tempos. Dores que nos podem tornar incapazes (no meu caso porque o parto não foi maravilhoso), ter um bebé a sugar nas nossas mamas, ter pessoas constantemente a ver os pontos e isto e aquilo, ter pessoas que nos chamam de mãe apesar de ainda não nos sentirmos como tal ... a sério, avassalador.
Mesmo quando fui para casa só queria sossego. Mas parecia mal recusar visitas e lá ia recebendo uma ou outra. 
Posto isto, eu precisei de tempo. Precisei de me reencontrar e reorganizar. Dum dia para o outro nada é como era antes. Temos um ser dependente de nós sempre e para sempre. Dei por mim muitas vezes a pensar "e agora?". Podemos imaginar muita coisa, mas é muito mais intenso do que tudo o que podemos imaginar.
Por esta ter sido a minha experiência, ao saber que o meu grande amigo de longa data tinha sido pai, apenas mandei mensagem para ele e para a recém mamã a dizer que lhes ia dar tempo para se reajustarem e que lhes desejava tudo de bom. Que depois logo iria ver a bebé, mas que estava aqui se precisassem".
Uma grande amiga minha está grávida e esta vai ser exatamente a minha postura. 
O nascimento de uma criança é um momento do pai, da mãe e da criança. E é assim que deve ser. 


Não há meses suficientes que nos preparem para ser mães. 


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