sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Todos nós, pais, sabemos que os nossos filhos estão tempo demais na escola.


Há pouco tempo, um aclamado psicólogo, de quem até gosto bastante, escreveu sobre o facto de ser quase uma tortura as crianças estarem na escola tantas horas por dia, dez a doze, dizia ele. Desta vez, foi feito um estudo também nesse sentido, dizendo que as crianças passam horas a mais por dia na escola.
A minha questão é: o objetivo desse tipo de artigos é ensinar os pais a fazerem contas, ou é só mesmo fazer com que estes pais se sintam ainda mais culpados?
Uma família com um horário razoável, das nove às cinco,  já vai deixar a criança na escola das oito às seis. E isto é um caso de sorte, atenção. Se a pessoa trabalhar mais longe ou se tiver mais de uma hora de almoço, o tempo de permanência da criança na escola também irá obviamente aumentar.
Hoje saí de casa ainda não eram oito da manhã e vou voltar perto das seis e meia da tarde. Um dia desta semana o Gustavo não tinha dormido a sesta. Eu cheguei a casa perto da hora de jantar e já não o apanhei acordado. Ninguém precisa de me dizer que estou demasiadas horas longe do meu filho, porque eu já sei disso e já me sinto culpada por isso, ainda que não tenha outra opção.
É tempo de parar de fazer com que os pais se sintam ainda mais culpados do estilo de vida que levam e das horas de trabalho que fazem, e passar a tentar encontrar soluções.
É urgente reduzir as horas de trabalho de um dos progenitores, de modo a que a criança possa ir mais cedo para casa.  É urgente que sejam dadas às pessoas condições decentes para serem pais decentes.


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domingo, 24 de novembro de 2019

Quando leio textos antigos

Andei a rever alguns textos mais antigos do blogue. Alguns, por incrível que pareça, nem me lembro de escrever.
Noto uma diferença enorme nos primeiros textos e nos últimos. Nem piores, nem melhores, diferentes.
Sabem aquela sensação de quando chegam por exemplo a um emprego novo e não conhecem ninguém? Dizem bom dia e boa tarde, mas não fazem mais conversas? Sentem-se tímidas e ainda pouco à vontade com aquelas pessoas? Depois com o passar do tempo vão começando a ser mais vocês mesmas?
Pelo menos a mim acontece-me isso. Não porque de início finja ser alguém que não sou, mas não me sinto logo à vontade. Tenho vergonha de tudo o que é novo e dou um passinho de cada vez. Sou muito ansiosa e medrosa, por isso demoro algum tempo até ser eu mesma. Não se trata de ter uma máscara mas sim de precisar de tempo até ganhar confiança nos outros e em mim.
É isso que sinto ao ler textos antigos. Não que quisesse ser alguém que não sou, mas de alguém comedida nas palavras, talvez com medo de como essas fossem recebidas. Talvez por ter medo de comentários depreciativos que pudesse receber.
A cada dia que passa sou mais eu mesma. A cada dia que passa me importo menos com aquilo que possam pensar. A cada dia que passa sou mais Catarina.
Há uma semana atrás uma senhora dizia que seguia o blogue desde o início, mas que a cada texto novo ficava mais desiludida porque já não parecia eu. Pois aqui digo, que cada vez mais me pareço comigo. E cada vez mais vou parecer.

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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A vítima, foi o bebé, naquele contentor junto com lixo.


Um bebé foi atirado ao lixo. Ponto. Ele não foi simplesmente abandonado. Não foi embrulhado num cobertor e deixado à porta dum prédio ou de um café na esperança de que alguém lhe desse uma vida melhor. Isso, eu talvez conseguisse entender (talvez). Foi atirado para o meio do lixo, despido, numa noite fria de novembro.
Tento não ser julgadora, porque não sei nada sobre a progenitora dessa criança. Ainda assim um ato tão hediondo deixa-me sem predisposição para tentar perceber o que quer que seja. Não sei das dores dessa mulher. Não sei se foi violentada nem se a vida lhe virou as costas. O que eu sei, é que há muitas pessoas com vidas incrivelmente miseráveis e que não tentam matar um bebé.
Acho incrível como a opinião de imensas pessoas mudou ao saber que essa mulher não tinha casa. Se primeiro a queriam ver morta numa fogueira para pagar pelo que fez, ao saberem que era sem abrigo já acham que a culpa é de quem não lhe deu a mão. Já li comentários de pessoas a sugerirem que fosse dada uma casa a essa mulher para ter o seu bebé de volta. Como se o facto de ela poder ser ou estar transtornada, possa servir de desculpa para aquilo que fez.
Quando um animal é deitado ao lixo, o Facebook enche-se de comentários de ódio, e com razão, para com a pessoa que fez tal barbaridade. Ninguém quer saber o motivo que levou a pessoa a cometer esse crime. Ninguém quer saber que pessoa é essa, de onde vem, ou aquilo porque passou. Mas um bebé… pff… é só um bebé.
Eu já me pus a tentar entender essa mãe. Já fiz mil e uma teorias na minha cabeça sobre a situação de modo a torná-la menos macabra, se é que isso é possível. Já pensei que talvez a mulher após parir a criança a tenha julgado morta e tenha entrado em desespero. Já pensei que seja mentalmente doente e que tenha sido agredida sexualmente. Já pensei de tudo, para tentar conseguir sentir alguma empatia pela autora do crime, ou para pelo menos não lhe apontar tanto o dedo.
Depois começo a imaginar o meu filho, acabado de nascer, a precisar de estar enroscado no meu peito nu enquanto aprende a mamar. Aquele pobre ser precisava do mesmo.
Podem ter realmente existido falhas que permitiram uma mulher morar na rua enquanto estava grávida, e quem sabe, mentalmente doente. Pode e deve servir de alerta para situações futuras. Mas por favor, o que importa agora é que as pessoas não esqueçam, que a vítima aqui, é aquele recém-nascido, que já amava quem o pariu.


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Fotografia via google.






terça-feira, 5 de novembro de 2019

Quem meu filho beija, minha boca adoça.


“Quem meus filhos beija, minha boca adoça.” 
Foi esta a frase que a mãe de duas crianças que foram minhas alunas, no primeiro e quarto ano, me escreveu.
Aos poucos tenho sentido a força que essas palavras tinham consigo.
Quem ama o meu filho, leva tudo de mim: Quem está presente na vida dele, quem contribui para a sua educação, quem se preocupa com ele…
Para adoçarem a minha boca, não precisam de estar com o meu filho diariamente, nem sequer mensalmente. Mas precisam de se importar. Precisam de querer saber dele.
Não é o Gustavo com dois anos que tem de pegar no telefone para telefonar a alguém, são os adultos que tenham interesse que devem ligar para ele. Mas o engraçado, é que o miúdo já começa mesmo a pedir para telefonar para falar com as manas ou com os avós, e telefonamos.
Também não é o Gustavo que tem de pegar no carro para ir visitar ninguém, posso estar a falhar como mãe mas ainda não o autorizei a tirar a carta.
Gosto muito de uma frase que certo dia li que diz “Ninguém tem de correr atrás de ninguém, dá para andar atrás um do outro”. Podem pasmar-se, mas o miúdo vai fazer três anos e existem (supostos) familiares diretos que ainda não o quiseram conhecer. 
Por mim está tudo ótimo, mas daqui a uns anos se por acaso nos cruzarmos e o Gustavo não quiser dar beijinhos, não faço questão que dê (sou má pessoa se fizer questão que não dê mesmo?)
Família não é sangue. Família é coração. Família é quando alguém não consegue estar assim tão presente fisicamente na nossa vida, mas telefona a dizer “espero que o menino esteja bem”. Família é quem arranca gargalhadas do miúdo. Família é quem nos quer, ainda que à distância de uma mensagem no telefone.




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Fomos ao parque..... quis esmurrar uns pais.

Lembro-me de ser pequenina e correr todos os parques e mais alguns. Os meus pais dizem que possivelmente conhecia os parques todos do distrito e mais alguns, e é capaz de ser verdade. Talvez por isso, e porque detesto estar fechada em casa com o miúdo,  sigo o mesmo caminho com o meu filho.
Idas ao parque deviam ser apenas e só momentos de diversão em família. Por vezes comigo, tonam-se em momentos de grande irritabilidade. Bater, morder, empurrar, gozar, são coisas de miúdos isso é certo. O que me irrita é apenas a postura desinteressada dos responsáveis por esses miúdos. 
Eu acredito que dê menos trabalho os pais chegarem ao parque, soltarem o filho, e ficarem descansadinhos da vida. Acontece que a educação e os valores que devemos ensinar aos nossos filhos não têm hora marcada.
Os miúdos são miúdos. Vão fazer coisas que os miúdos fazem, ainda que essas coisas magoem outros miúdos. O problema é que os pais são pais mas não têm pachorra para realmente o serem.
O Gustavo faz coisas de miúdos. Põe-se a subir o escorrega impedindo que as outras crianças desçam, tira a bola de outras crianças, ocasionalmente empurra e é perito em tentar furar filas. E nesses momentos, eu ou Zé intervimos. Explicamos que subir o escorrega realmente é bem mais divertido, mas que temos de permitir que as outras crianças que estão à espera desçam. Mostramos que ao tirar o brinquedo a outro menino, está a deixar esse menino triste, e damos a sugestão de pedir que lhe emprestem o brinquedo ao invés de o arrancar das mãos dos outros e fugir. Dizemos que não se empurra nem se bate nas outras crianças, e neste ponto não há “mas” nem “meio mas”. Ensinamos como é estar numa fila e esperar pela sua vez. Umas vezes temos sucesso, outras nem por isso.
Mas há pais que simplesmente não querem saber. Fazem valer-se do “eles são crianças eles que se entendam” para fugir a uma responsabilidade que é sua. Veem o filho a ter comportamentos altamente incorretos mas a preguiça de se levantarem para irem resolver o assunto é muita.
O Guga estava sentado para descer o escorrega. Um rapaz mais velho, com cerca de oito anos, subia o escorrega e sentava-se na frente do Gustavo com ar de gozo a olhar para mim. Os pais deste rapaz ao longe achavam muita piada à situação.
- Mamã eu queria descer. – disse o Gustavo.
- Desce filho.
- Não posso está aqui o menino.
- Desce na mesma. O escorrega é para descer por isso o menino vai sair daí agora!
Quase me senti culpada por falar assim para outra criança.
 Estava um rapazinho com cerca de três anos a andar de baloiço quando o mesmo rapaz mais velho o empurrou e o fez cair do mesmo. Os pais deste rapaz mais velho, no muro bem ao fundo onde estavam sentados, riram-se. Eu, respirei fundo, e agradeci por não ser  o Gustavo a ter sido empurrado.  Caso contrário eu e o Zé possivelmente perderíamos a razão (ok, eu perderia a razão) e estaríamos a falhar como pais, tal como esse casal de acéfalos falhou.
Só eu é que não acho normal existirem pais que vêem os filhos a serem mauzinhos com outras crianças e não fazerem nada? 

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