A minha princesa Mónica nasceu em
março de 2015. Entrou para creche em fevereiro de 2016. Tínhamos mudado de casa
nessa altura, eram muitas mudanças juntas.
Estava na altura da menina levar uma
vacina não comparticipada pelo estado (Bexero), mas infelizmente não tínhamos dinheiro.
Para muitas pessoas pode ser fácil falar, mas só eu sei o sacrifício que fiz
para ela levar uma outra vacina também não comparticipada. Não consegui mais.
No dia 28 de Abril, levei a menina à creche
como era costume. Pelas 17h recebo uma chamada da creche a dizer que a princesa
estava com febre de 38 graus e a perguntar se podia ir busca-la. Fui
imediatamente e esperei pelo meu marido para irmos ao hospital.
Na triagem a febre estava perto dos
quarenta graus. Deram pulseira laranja à menina e mandaram-nos para a sala de
espera. Poucos segundos depois começo a ver que ela estava com olhar fixo, a
tremer e que não reagia quando chamava por ela. Uma senhora que estava perto de
mim gritou pelos médicos que correram em direção a nós e a tiraram do meu colo.
A menina tinha tido uma convulsão. Chorei muito, senti-me incapaz de a
proteger. Ficou em observação, fez análises e deram-lhe soro.
Nessa altura entrou uma enfermeira
mais velha para tirar sangue à minha menina. Não sei como é que ela fez, mas
menina ficou toda negra no braço onde ela agarrou. Pensei ser normal da pressão
que fez para segurar o bracinho pequeno da minha princesa. Pouco tempo depois
reparei que apareciam imensas manchas pelo corpo todo da minha filha, que
entretanto começava a chorar e a vomitar.
Veio a médica de serviço a correr, que
olhou para ela, e disse algo à enfermeira que não consegui ouvir. A enfermeira
apressou-se a dar um medicamento intravenoso à minha filha, e levou-a para um
outro piso.
Eu não percebi nada do que se passou,
limitei-me a segui-las. Parece parvo mas estava tão nervosa que estava muda,
limitava-me a seguir ordens. Tinha 2 enfermeiras à espera dela. A médica chamou
por mim e pelo meu marido e informou-nos que tinham de transferir a minha filha
para o hospital do porto, pois lá tinham mais equipamentos caso alguma coisa
corresse mal. Como assim? Ouvi atentamente tudo o que me iam dizendo, mas
sinceramente não assimilava. Estava muito preocupada e muito cansada. Eram
cerca de quatro da manhã. Foi-me explicado que eu não podia ir no mesmo
transporte que ela.
Fiquei aterrorizada, agarrei-me ao meu
marido a chorar, a minha filha estava muito mal e não sabíamos porquê. Para além disso tinha de separar-me dela, quando sentia que ela mais precisava de mim.
Por volta das cinco da manhã chegaram uns doutores com batas amarelas e máscaras para levarem a minha menina. Mas que raio se passava? Eu estava tão mas tão cansada. Parecia um pesadelo. Enquanto
a punham na ambulância chorava, não podia ir com ela. Fui a casa apanhar umas
roupas para ela, e fomos a voar para o porto. Cheguei lá e vi a minha menina
cheia de fios ligada, numa sala isolada. Para entrar la dentro tinha que usar
luvas, touca e máscara.
A médica chamou por mim ao gabinete, e
perguntou se sabia o porquê da menina estar ali, eu disse que não. Explicou-me
então que a minha filha tinha meningite. Senti o chão a fugir-me dos pés. Não dei essa vacina à minha filha por falta
de dinheiro. Só eu sei o que passei para conseguir dar uma outra vacina paga
por mim. Se a minha menina tivesse levado a vacina isto não acontecia? A culpa era minha? A médica disse que não tinha culpa nenhuma, mas não era isso que eu sentia.
Foi novamente transferida, desta vez
para o centro materno infantil do porto. Tínhamos um quarto isolado só eu e
ela, tentei dormir, mas sempre sobressaltada como medo que houvesse algo e eu
não desse conta. Queria o meu marido ali comigo, mas tinha de estar sozinha.
No dia seguinte ao acordar olhei para ela e
assustei-me. Tinha a cara toda inchada, não conseguia abrir os olhos. Toquei a
campainha de emergência mas ninguém apareceu. Saí pelo corredor e não via
ninguém, desesperei. Nisto aparece uma médica que ficou assustada com o que viu.
Examinou a menina e disse-me que ela ia ser transferida para os cuidados
intensivos. Mais um murro no estômago, a minha filha estava mal e a culpa seria
minha?? Não podia fazer nada por ela. Passou algum tempo ate vir uma enfermeira
falar comigo, disse que a menina estava estabilizada, mas as 48h seguintes
seriam criticas. O tipo de meningite que ela tinha era das mais perigosas,
podia ter danos cerebrais, podia ficar surda, muda, sem andar, podia ficar com
problemas cognitivos, inúmeras coisas que nenhuma mãe quer ouvir.
Finalmente deixaram-me vê-la. Estava a
dormir, chorei à cabeceira dela. A mancha negra no braço continuava lá, estava
ligada a máquinas, a soro e com algalia. Sempre que as máquinas apitavam o meu
coração acelerava.
Passou 3 dias nos cuidados intensivos,
eu sempre estive ao lado dela, eu e Deus. Quando finalmente a enfermeira me diz
que ela podia voltar ao hospital de Barcelos porque estava livre de perigo
fiquei aliviada. Ficou mais uma semana e meia internada.
No segundo dia que estivemos em Barcelos senti-me mal. Era eu nas urgências com o principio de esgotamento
nervoso e a minha filha internada, o meu marido divida-se entre nós as duas. A
minha mãe tirou uns dias para ficar na minha casa, eu precisava dela e a neta também.
Hoje 3 anos depois a minha princesa é
uma menina normal sem sequelas, fala muito bem, anda, corre, é inteligente.
Continua a ser seguida nas consultas do hospital.
Após este episódio caí numa depressão
que ainda hoje ando a tratar, a ansiedade tomou conta de mim e a qualquer sinal
de aviso, corro com a minha menina para o médico.
Graças à doutora Dalila, e ao seu tratamento rápido, a minha menina está viva.
Estou-lhe eternamente grata.
Agradeço também às grandes equipas que
nos acolheram, enfermeiros e pediatras do hospital de Barcelos, hospital de
santo António no porto, e Centro Materno Infantil do Porto, médica de família
Helena Brito, e enfermeira Mercedes da usf Barcelinhos. São uns anjos que
cuidam dos nossos pequenos. Gostava muito que este texto lhes chegasse e soubessem o quanto eu lhes estou agradecida. Salvaram a vida da minha filha, nada do que eu diga é suficiente para expressar o meu agradecimento.
A Mónica passou por todo este sofrimento
acompanhada do seu ursinho de peluche. Prometi a mim mesma que se tudo corresse
bem, iria entregar o ursinho à nossa senhora de Fátima. E assim foi.
Hoje não me sinto mais culpada. Sinto-me a melhor mãe que a minha menina podia ter tido.
- Sara Rodrigues, mãe da guerreira Mónica, Barcelos -
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Mónica, uma princesa guerreira |
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Agradecimento a Nossa Senhora de Fátima |