terça-feira, 16 de julho de 2019

Da saga : filho, se te baterem bate ainda com mais força.


Versão educadora

Então queridos pais, vamos lá a ver se “a gente” se entende. "Se te baterem bate ainda com mais força?
Então eu enquanto educadora passo todo o santo dia, todo o santo ano, a explicar que não se  bate. Eu conto histórias sobre o assunto, eu converso com eles, eu explico o porquê de não se bater, fazemos projetos sobre essa questão da violência …. Eu passo-lhes que se lhes baterem, devem ir ter com o adulto mais próximo para que ajudem a resolver a situação, ao invés de baterem também.
Reparem, se uma criança bate, e a outra responde batendo, e a primeira bate ainda mais, depois bate a segunda ainda mais, não saímos daqui, deste efeito de bola de neve. Violência gera violência, certo?
Depois, se ensinamos às crianças que se lhes baterem devem bater mais e com com mais força, estamos a incutir-lhes que a justiça se faz com as próprias mãos? Eu sei, que mesmo a nós adultos,  às vezes dá essa vontade, principalmente quando vemos crimes hediondos serem punidos com penas leves, mas não me parece razoável incutir isso numa criança, num ser humano que está a crescer e a aprender a viver em sociedade.
Agora, mais importante que tudo. Então os pais querem ensinar os filhos que devem reagir batendo com mais força? Isso significa que se um dia for o vosso filho a bater, o agredido deve bater ainda com mais força no vosso filho, é isso?
Eu entendo que para o coração de mãe ou pai seja difícil ouvir o filho dizer que lhe bateram, mas tentem concentrar-se nisto:
·        São miúdos. Os miúdos batem, incluindo os vossos filhos. Posso garantir que por cada 20 crianças que apanhei nos meus grupos, apenas uma não bate. De resto TODAS as crianças batem. Ou porque lhes tiraram um brinquedo, ou porque o colega não quis brincar com ela, ou porque lhe disseram alguma coisa que não gostou de ouvir… mas mais importante ainda, é saberem que as próprias crianças depois de se chatearem, já são super amigas.
·        Quando as crianças dizem que lhes bateram , há uma tendência (e eu percebo porque também tenho um filho em quem batem) em imaginar o nosso filhote no chão a ser agredido ao soco ou pontapé. Não é isso que se passa. NADA mesmo.  As crianças não têm a mesma noção de bater que nós temos. Eu estou presente e vejo. “AAhhhhh catarinaaaa ele bateu-meeeeee”, diz o João. “Oh rapaz, eu estava a ver, ele puxou-te o ombro para te chamar”. “Ah pois é afinal não bateu só parecia”;
·        Por cada vez que o vosso filho chega a casa a dizer que alguém lhe bateu, há possivelmente uma criança a dizer em casa dela que o vosso filho lhe bateu;

Portanto, por muito difícil que seja, por muito que queiram esganar a criança que fez mal ao vosso filho, pensem nisso mesmo, é só uma criança. E sempre que se sintam incomodados ou preocupados com alguma situação deste tema, falem com o responsável do vosso filho, seja o educador ou professor. Na grande maioria dos casos não há mesmo motivo para preocupação, mas quer haja ou não, estamos aqui para vos receber e ouvir com atenção os vossos receios e angustias e para dar resposta aos mesmos.

Versão mãe

Filho, nunca dês a primeira, mas nunca leves a segunda.


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Matilde e Gustavo 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

A vossa história no nosso blogue - perdi o meu filho no final da gravidez


Estava grávida do meu terceiro filho. Sempre fui uma grávida com muita sorte. Poucos enjoos, nada de dores nas costas ou de tornozelos inchados, basicamente tinha barriga e nada mais.
O pós parto dos meus dois primeiros filhos também correram super bem, tudo muito tranquilo. Foi tudo bom demais para ser verdade, mas foi.
Dos meus dois primeiros filhos não tinha feito nenhuma daquelas coisas “pirosas” de grávidas. Nem sessão fotográfica, nem chá de bebé nem tinha contado às pessoas de maneira nada original.
Desta vez decidi que queria tudo.
Certa vez ao jantar coloquei mais um prato na mesa. Ao chegar à cozinha o meu marido disse que andava mesmo com a cabeça no ar e que tinha posto um prato a mais. Sorri-lhe e disse que a família ia aumentar.
Fizemos uma sessão fotográfica linda quando estava grávida de oito meses. Também nessa altura as minhas amigas me fizeram um chá de bebé.
Faltavam duas semanas para a data prevista para o parto. Foi numa simples consulta de rotina. Fui sozinha porque  o meu marido tinha uma reunião, e nunca me incomodou ir sozinha às consultas. Ele estava presente nas ecografias, e por mim estava tudo bem assim. Antes de entrar a enfermeira perguntou se andava a contar os movimentos do bebé. Respondi que sim, mas que por acaso nesse dia o bebé estava muito calminho.
- Muito calminho como? – Questionou a enfermeira.
- Mais calmo do que o normal. Menos mexido. Mas também já não tem tanto espaço para se mexer. – Respondi eu, achando desnecessário tanto alarido por o meu filho estar mais preguiçoso.
A enfermeira encaminhou-me de imediato para o gabinete médico. Sussurrou qualquer coisa ao ouvido do Doutor e de seguida sorriu para mim , um sorriso muito forçado.
- Bem , venha lá aqui para esta marquesa para ouvirmos esse rapaz. – Informou o Doutor.
Eu fui. O médico lá ia mexendo aquela engenhoca pela minha barriga, mas só se ouvia silêncio. Comecei a sentir-me nervosa, mas estranhamente não entrei em pânico.
Foi chamado um outro médico.
A enfermeira deu-me a mão e olhou para mim com uns olhos que nunca esquecerei.  Não tirei os meus olhos dos dela enquanto me diziam que não existiam batimentos.
Repetiram isso várias vezes, e na ausência de resposta de minha parte disseram algo como:
- Minha querida, perdeu o bebé. Entende o que estamos a dizer? Podemos ligar a alguém?
Fui para as urgências com o meu marido. Fizeram-me uma cesariana. Quis segurar o meu filho antes de ser levado.
Deram-me imensos calmantes, a mim e ao meu marido. Não sei se chorei, se nos abraçámos, não sei quanto tempo estivemos no hospital. Não tenho muitas recordações desses dias, acho que estive quase sempre a dormir.
Não me lembro bem do funeral. Não me lembro bem dos meses seguintes. Tenho falhas enormes de memórias relativas a essa altura. Estava completamente drogada. Das poucas vezes em que estava acordada e consciente não sabia bem quem era nem onde estava. Não me lembro bem dos meus outros dois filhos nessa fase.
Passaram cinco anos. Nunca quis falar disto a ninguém, apesar de as pessoas à minha volta saberem obviamente. Não é algo de que se fala quando se conhece alguém ou quando se vai a um jantar de amigos. Parece estranho não falar disto mas escrever sobre isto, mas fi-lo porque me fez sentido e com a condição de não dar a cara nem nome, apesar de os meus amigos saberem que sou eu que estou aqui a contar esta minha historia de vida, e estarem muito orgulhosos de mim.
Se calhar, deitar isto cá para fora era aquilo que eu precisava para voltar a viver e não apenas sobreviver.  Ninguém tem de saber quem sou. Não quero a pena de ninguém,  nem o conforto. Já o tive. Apeteceu-me contar isto e sinceramente nem sei bem porquê. Não sei o que pretendo com isto, talvez libertar-me. Talvez dizer a outras mulheres que não estão sozinhas. Talvez alertar para durante a gravidez estarem atentas às coisas que pareçam mais parvas. 

(Anónimo, Aveiro)

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(Imagem de Drauzio)





quarta-feira, 3 de julho de 2019

Educadores, professores, auxiliares de educação.... - pôr os filhos na escola onde trabalham?

- Epa de manhã pensei logo em ti. Chateei-me na escola da minha filha e pensei, ainda bem que não a pus na escola onde trabalho. Acho que devias escrever qualquer coisa sobre isso no teu blogue. - Disse-me a minha colega (que não gosta que a chame de colega por sinal).
A questão é que .... depois de falar com ela sobre o assunto passei o resto do dia a matutar no mesmo. Basicamente já existiram na escola da filha dela algumas coisas com as quais não concorda, e teve de "refilar". Mas seria diferente ter de refilar com pessoas próximas de si e de quem gosta.
Eu nunca serei totalmente justa e sincera a pensar sobre o assunto porque me sinto longe da situação. O Gustavo ainda não está na escola, e quando for, irá para uma pública que será a mais perto de casa. Logo não irá estar nem na minha escola (não é pública) nem na escola do pai (não é da área de residência nem gostamos do ambiente que rodeia a escola). 
Por saber isso, posso imaginar como seria se tivesse de escolher entre pô-lo comigo ou com o pai, ou pô-lo em terreno desconhecido. Mas lá está, só posso imaginar. Portanto, imaginei. Imaginei muito e não consegui decidir.

A minha maneira de ver as coisas parte 1)

O desconhecido assusta-me. No meu local de trabalho sei com o que posso contar. Sei quem são as profissionais que lá trabalham e conheço-as relativamente bem. Conheço as crianças, alguns pais, conheço bem a instituição, os seus valores e rotinas. Ia saber com quem ele ia estar, como era essa pessoa, como era a comida, como eram as atividades que faziam, quem eram e como eram os colegas de sala... 
Não ia estar preocupada com horários nem com pressas para o ir buscar, quando eu saísse do trabalho ele vinha comigo. 
Numa outra escola, eu não conhecia nada. Até podia apanhar excelentes profissionais, as melhores do mundo, mas a mim assusta-me imenso aquilo que não conheço. 
Portanto por esta visão, escolheria o meu local de trabalho.

A minha maneira de ver as coisas parte 2)

Sim sou educadora. Mas também sou mãe. Aliás, ser mãe é a minha prioridade. Se vocês são mães percebem o que quero dizer. Conseguimos virar bicho (ainda que o devamos fazer de forma educada e sensata) quando o assunto é o bem estar dos nossos miúdos.
Portanto num local de trabalho, quer-se bom ambiente. Acabamos por conhecer bem aquelas pessoas com quem estamos todos os dias. Algumas dessas pessoas tornam-se nossas amigas.
E depois, quando uma dessas amigas fica responsável pelo nosso filho, as coisas mudam. Como mãe, teria o direito de refilar e de criticar aquilo de que eu não gostasse. Mas das duas uma: ou não o faria para não criar mau ambiente no meu local de trabalho, ficando assim a remoer por dentro, ou então iria fazê-lo e estragar possivelmente uma boa relação profissional ou até mesmo uma amizade. 
Por esta visão, preferia ter o meu filho num outro estabelecimento de ensino do qual eu não fizesse parte.



(Fonte: o segredo.com.br kosmos111 / 123RF Imagens )