segunda-feira, 21 de maio de 2018

Porquinhos, porquinhos

Hoje desabafo enquanto educadora: por favor, deixem as crianças ser crianças.
Trabalhei sete anos numa escola que foi a minha escola de eleição. Conheci pessoas fantásticas, incluindo o pai do meu filho, fiz grandes amizades, conheci crianças e pais maravilhosos.
No entanto nessa escola (e possivelmente noutras) havia um acontecimento constante. À saída, as queixas das mães porque os meninos iam sujos. As mães ficavam mesmo chateadas e chegavam mesmo a ser muito desagradáveis com quem entregava as crianças. Alegavam dar muito trabalho tratar da roupa dos miúdos e a tirar as nódoas, ou que ainda iam às compras e era uma vergonha levar os miúdos assim.
Uma mãe do primeiro grupo que apanhei chegou a perguntar se não podia tirar a terra debaixo das unhas do filho ao final do dia. Nesse dia eu não devia estar bem disposta, respondi que aquilo era uma escola e não um spa. Recentemente uma mãe exigiu que o filho não fosse ao recreio porque o filho era dela e não o queria sujo. Mudei de emprego e não sei como terminou essa história.
Não foi uma, nem duas, nem dez vezes que eu recebi queixas de mães porque os sapatos novos iam sujos de terra. Ou porque a camisola nova ia suja de tinta. Ou porque os cabelos iam emaranhados. E assim como eu, as minhas colegas ouviam a mesma lenga-lenga quando entregavam os meninos da sala delas. Se calhar podiam não mandar as crianças com roupa nova, por exemplo.
Expliquei várias vezes às mães o seguinte: as crianças vão sujas de terra porque as deixei brincar na terra. Porque procuraram bichinhos e fizeram bolinhos. A roupa ia suja de tinta porque fizeram um trabalho que adoraram e quiseram repetir para dar um à mãe. Os cabelos das meninas iam emaranhados porque correram, saltaram, rebolaram. Ah, e no meio de tudo isto riram muito e foram felizes.
Cheguei a ter uma mãe que me respondeu que se eu achava isso tudo tão importante podia lavar a roupa da filha dela. Não, não posso. Porque essa é a tarefa da senhora. No entanto lavo a roupa de duas miúdas e de um bebé. 
Quando vou buscar a minha enteada mais nova muitas vezes a mando abrir a janela do carro. Bolas, como é possível uma miúda que de manhã vai tão arranjadinha voltar da escola a cheirar mal?? Mas volta. E vermelha de tanto brincar. E o cabelo cheio de nós. E principalmente, feliz.
A mais velha já passou essa fase, mas ainda me lembro de quando chegava a casa até ao sexto ano. Vinha igual à outra.
Bem do bebé, quase nem vale a pena falar. Às vezes entra na banheira vestido. A terra cai por todo o lado. No cabelo, tenho de por amaciador das irmãs para conseguir desembaraçar o cabelo pastoso com mistura de terra e comida e sei lá mais o que.
Portanto basicamente é isso. Aqui por casa, eles chegam porquinhos, porquinhos da escola. Mas felizes. E eu e o pai ficamos felizes por isso.
Abençoadas as mães, que felizmente também são muitas, que tal como eu ficam felizes quando os seus filhos chegam assim também, porquinhos, porquinhos.

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As manas quando eram pequeninas, brincadeiras na aldeia.

Gustavo a apanhar pedrinhas

O Zé e a Gabriela a transformarem a Matilde numa sereia

Sentar na neve com calças de ganga é das coisas mais espertas de sempre

Decidiram pintar-se uma à outra de olhos fechados. Nós deixámos.

3 comentários:

  1. Concordo inteiramente com a Sra.

    Mas também infelizmente acontece algumas educadoras com um sol de Primavera a deixarem os miúdos fechados o dia todo, porque na opinião da mesma no jardim apanham sol, ficam transpirados e até podem apanhar algum tipo de bicho na relva!!!!!!!

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  2. Simplesmente maravilhoso!!!!

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  3. Eu era mais com as avós: uma delas ficava muito feliz de me entregar o miudo limpinho com a roupa da manhã e a outra entregava-me o miúdo com a segunda ou terceira muda do dia e mesmo essa... Arrancava batatinhas, corria/gatinhava atrás da bixarada... só usava sempre calças para as perninhas não ficarem demasiadamente marcadas. E eu feliz de o ver porquinho. Hoje com 14 é ainda um terrorzinho: Vai tratar das ovelhas, das éguas, toca viola em cima de muros, mergulha num regato em dezembro. Saudável e feliz (porque de médico só mesmo para uma ou outra sutura e mesmo assim no pediátrico ficaram muito admirados por uma criança em idade escolar não ter lá ainda ficha.

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