quarta-feira, 30 de maio de 2018

O meu melhor presente para ti.

Querido Gustavo.
Não tenho muito para te dar. Vejo blogues escritos por pessoas de bem na vida, que fazem constantemente grandes viagens para paraísos perfeitos e eu nem consigo sair de Portugal há quatro anos. Têm casas lindas com um pequeno jardim para os filhos brincarem e eu nem consigo ter uma casa para teres um quarto só teu. Os filhos têm as roupas novas que saem nas coleções de marcas boas, mas tu usas a roupa que era do filho da minha melhor amiga. Podem levar os filhos a jantar ou ao cinema sem terem de analisar bem o saldo da conta, e connosco as coisas não são bem assim. O nosso sofá está a precisar de ir para a reforma mas continuamos com ele assim há cinco meses porque não conseguimos comprar um novo. Eu não me importo e espero que tu também não.
 Que nenhuma destas palavras soe a crítica. É apenas um desabafo de quem estudou e lutou para ter uma vida assim boa e folgada em termos monetários, mas (ainda, espero) não conseguiu alcançar grandes feitos em termos de carreira. E de quem queria muito fazer uma viagem e levar-te, de quem queria um pequeno terraço para jogares à bola, de quem queria conseguir comprar-te uns ténis novos sem ter de optar por aqueles só porque eram os mais baratos.
Ainda assim, desde que nasceste que te tenho dado o meu maior presente: Tempo.
Tinhas cerca de seis meses quando começaste a acordar às cinco da manhã para brincar. Lá ia eu contigo para a sala rolar no tapete ou cantar cantigas com um olho aberto e outro ainda fechado.
Ao fim da tarde por muito que viéssemos cansados do trabalho íamos sempre contigo ao parque ou à praia. E acredita que em muitos dias não tínhamos assim tanta vontade de o fazer (desculpa mas às vezes não tínhamos).
Muitas vezes vim a correr a casa à hora de almoço pôr roupa a lavar ou aspirar, para que quando chegasses ao fim da tarde eu fosse só tua. Sem preocupações, sem tarefas domésticas, sem dramas.
Claro que existem momentos em que não consigo ter tanto tempo para ti quanto desejava, mas o importante é fazer com que cada pedaço de tempo se torne infinito.
E agora lá vim eu a correr apanhar e dobrar roupa para que logo possamos ir buscar as manas à escola como tanto adoras e brincar com elas no parque.



Bochechas da mãe, 2017

Familyland, 2017

Dia na piscina, 2018


2 comentários:

  1. Os meus pais deram-me tudo, menos tempo. E tempo era tudo o que eu queria. Esse menino é um sortudo.

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  2. Acredite que metade (ou talvez a maioria...) do que se vê em blogs perfeitos não existe. Não digo que não hajam famílias felizes e com ordenados generosos que permitam férias grandes e casas ainda maiores. Mas grande parte tem vidas vazias... o amor que temos pelos filhos não se mede pelos bens materiais que lhes conseguimos dar, mas por todos os sacrifícios feitos diariamente por eles, sacrifícios esses que são vistos como bênçãos!
    Ser mãe doi. Ser mãe da trabalho. Ser mãe é um trabalho que começa no dia em que sabemos que temos uma pessoazinha a crescer dentro de nós e só termina no dia em que morrermos. Ser mãe é amar sem medida. E o tempo é o maior presente que lhes podemos dar, enquanto os temos e enquanto cá estamos.
    ��

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