quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Depressão pós parto

Já muitas vezes na vida me senti deprimida. Ou pelo menos era o que eu achava. Pelos vistos estava apenas um pouco triste ou perdida.
Soube o que era uma depressão quando o Gustavo nasceu. Não faz sentido que tenha sido no momento mais feliz da minha vida (ou supostamente o mais feliz), mas foi.
Eu não consigo realmente por em palavras aquilo que eu sentia porque eu não tenho a certeza daquilo que sentia. Era um turbilhão de sentimentos envoltos num lugar escuro. Era um um poço fundo e escuro cheio de nada.
Muitas mães se sentem cansadas, no limite, exaustas. Isso é normal. A depressão pós parto vai muito além disso. Vai ao ponto de se pensar "Estou nesta vida para quê?".
Penso que aquilo que mais sentia era uma tristeza profunda, seguida de culpa. A culpa trazia ainda mais tristeza que por sua vez trazia mais culpa. Não se tratava de estar cansada, em baixo ou tristinha. Estava incrivelmente deprimida. Lamento mesmo não conseguir passar para palavras aquilo que me ia na alma e nos pensamentos.
Desde que o Gustavo nasceu que passava os dias a chorar. Todos os dias e constantemente. O Zé perguntava-me porque chorava e eu respondia apenas um "não sei". Eu realmente não sabia. Chorava ao ponto de me engasgar mas não sabia porquê.
Não conseguia comer. Quando se aproximava a hora de começar começava a sentir-me com vontade de vomitar. Sabia que tinha de comer mas não conseguia. Tinham passado duas semanas desde o parto e eu estava mais magra do que quando engravidei. Estava com o peso que sempre quis ter, mas pelos piores motivos.
Não queria sair de casa, não queria ver pessoas. Passava grande parte do dia no quarto todo escuro a chorar. Pensei muitas vezes que nunca me tinha sentido tão infeliz.
Nunca pus o Gustavo de lado. Sei que isso por vezes acontece, mas comigo felizmente não. Aliás eu naquele momento só reagia por causa dele. Dava de mamar, adormecia-o, abraçava-o. Muitas das vezes fazia-o a chorar, e mais uma vez sem saber porquê. Gostava dele e tinha uma vontade enorme de o proteger de todos os males do mundo, mas acho que não o amava como hoje.
A minha mãe veio uns dias para a minha casa para dar uma ajuda com o bebé. Mesmo com ela presente eu só queria desaparecer.
Certo dia acordei já a chorar. Não conseguia parar. Chorei tanto que vomitei. A única coisa que consegui dizer foi que queria a minha mãe, que nesse dia estava em Lisboa. Veio a correr para minha casa.
Eu não estava mesmo a aguentar viver assim. Aliás eu não estava a viver. Estava a reagir.
Sabia que precisava de ajuda. Marquei consulta para uma médica especialista em depressão e ansiedade na gravidez e pós parto. Foi a melhor decisão. Comecei a tomar medicação e aos poucos tinha a minha vida de volta. Foi preciso paciência, tempo e força de vontade a juntar à medicação. Mas devagarinho lá cheguei. Passados uns dois meses no máximo tinha a minha vida de volta. Era eu outra vez. Aí sim, estava cansada, com sono, de rastos. Como qualquer mãe de um bebé com dois meses. Mas era eu. Sabia o que sentia e porque sentia. Não era uma pessoa no escuro à espera que o bebé quisesse mamar.
Não recuperei de imediato a vida que tinha antes do Gustavo. Ir para grandes almoçaradas, combinar jantar com amigos, voltar ao ginásio. Acho que demorei perto de um ano até me sentir eu, com um filho. Mas já era uma mãe igual a todas as outras, com os seus receios e medo de falhar. Já não era uma mãe com depressão. Isso cura-se. Mas é preciso pedir ajuda.
Agora olho para trás e vejo que esta depressão me impediu de gozar o meu filho a cem por cento no primeiro mês, principalmente. Fico em adoração às fotografias dele recém nascido a desejar que o tempo voltasse atrás. Mas o tempo não me dá ouvidos. Vou então aproveitando cada momento do presente.

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Como assim, tive uma depressão com este amor?

Saudades desses bracinhos fofos e ombros peludos.


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