Sabem
aquelas frases do “violência gera violência” ou “amor gera amor”? É a mesma
coisa aqui: ansiedade gera ansiedade.
Não quero
melindrar ninguém até porque ansiedade é o meu nome do meio, mas a verdade é
que a maioria das vezes são os pais que fazem com que seja difícil a criança
ficar na escolinha.
Eu percebo
essa angústia e sei exatamente o que sentem. Quando venho para o trabalho, ao
sair de casa o Gustavo agarra-se às minhas pernas a pedir por favor para vir
comigo, pede colinho, chora, grita, esperneia ao colo do pai. Desço as escadas
e entro no carro com o coração esmagadinho e muitas vezes ao arrancar no carro
ainda o ouço ao longe. Mas ele fica bem, aquilo passa. Dou-lhe sempre um
beijinho, digo-lhe que gosto muito dele e que volto ao final do dia. Evito
voltar para mais um abraço ou mais um beijinho mesmo que peça, porque depois
desse vai pedir outro, e outro, e ainda outro, e a angústia vai ser maior para
os dois.
É mais ou
menos isto que muitos pais não cumprem e que dificulta imenso a chegada dos
filhos à escola.
Sou
apologista das despedidas rápidas. Não têm de me atirar os miúdos pelo ar para
entrarem na sala. Não têm de sair a correr, muito menos às escondidas. Mas
também evitem interferir no meu trabalho e no bom funcionamento da sala.
Acredito que
pensem estar a fazer o melhor para os filhos, mas há certas atitudes que lhes
criam uma angústia e uma ansiedade imensa:
- Subornar a
criança – Prometem ao filho mil coisas como prémio para ele ficar: - Filho, se
ficares sem chorar a mãe logo dá-te um chupa. O pai compra-te aquele boneco que
queres.
A criança
tem de perceber que tem de ficar porque sim, porque os pais têm de ir
trabalhar.
- Despedidas
longas. Dão um abraço. Mais um beijinho. Ficam com a criança ao colo durante
cinco minutos enquanto conversam com ela. A criança chora e pede para os pais
não a largarem. Mais cinco minutos. A mãe diz que tem mesmo de ser e prepara-se
para largar a criança que pede mais um beijinho. E nisto são mais cinco minutos
e a criança começa a achar que se calhar já não se vai separar dos pais. Mas
entretanto tem de ser, e a criança fica a chorar muito mais do que estava a
chorar quando chegou.
- Esperar
que seja a educadora ou a auxiliar a tirar os filhos do colo da mãe ou do pai.
Não faço isso. Ninguém tem de ser o mau da fita. Nem quem recebe, nem quem
entrega. Os pais devem passar a criança a quem a recebe. Não devem ficar
enrolados no filho, às vezes a fazer mais força do que a própria criança, na
esperança que alguém arranque o filho dos braços.
- Por-se a brincar. Eu percebo a tentativa de
distrair a criança. Mas agora vamos pensar um pouco na rotina e dinâmica da
sala. Se todos os pais entrarem na sala e forem buscar uma bola ou um carrinho
e se puserem a brincar com a criança fica complicado não? E para as restantes
crianças que não tiveram os pais a brincar com elas? E o ficar a brincar, lá
está. Dá direito a uma despedida mais demorada recheada de ansiedade.
- Voltar
atrás. Por favor, não. É o pior que podem fazer. A criança já se separou, está
a lidar com essa frustração, e eis que txanaannn, os pais voltam a aparecer à porta.
A SÉRIO??!! E voltamos então à estaca zero.
Portanto
vamos rever:
1- Os pais conseguem ser MUITO mais
ansiosos que as crianças. Põem certamente na cabeça que o filho fica a chorar o
resto do dia quando na verdade passados uns minutos fica a brincar e nem
pergunta por eles.
2- Despedidas rápidas pelo bem estar dos
meninos. Dar sempre um beijinho e dizer que gostam muito da criança, dar um
abraço apertado, e chega.
3- NUNCA chorar à frente do filho por
mais que vos custe a separação.
4- NUNCA voltar atrás porque ouviu o
filho chorar.
E nem me
façam a conversa do “ah e tal se fosse contigo” porque é comigo, chego ao
trabalho ainda com os berros do meu filho nos ouvidos. Mas faço o melhor para
ele, que passados cinco minutos já nem se lembra que eu existo.
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