domingo, 10 de junho de 2018

A alimentação é como a educação: vem do berço.

Enquanto educadora esta é uma das maiores queixas que os pais me fazem. Há casos de crianças que em casa simplesmente não comem sopa, salada ou fruta, mas na escola até comem. Outros não comem nem em casa nem na escola. Outros comem apenas o mais tradicional: sopa passada, alface e cenoura, maça pêra e banana.
Na grande maioria dos casos tenho-me vindo a deparar, no trabalho, com crianças que não gostam de sopa mas que até a comem (na escola) passada, fazendo algumas caretas. No prato principal a salada é realmente um desafio, a par com cogumelos, ervilhas e brócolos. A parte da fruta é a parte mais fácil, sendo que se oferecermos uma fruta menos comum como dióspiro rejeitam logo à partida. Depois de experimentarem alguns até repetem.
Confesso que na questão da alimentação sou bastante sensível pois também eu sempre fui esquisita para comer. Além disso é fundamental conhecermos a criança que temos em mão. Se eu tenho uma criança que come de tudo mesmo, mas não quer queijo, eu sou bastante fléxivel. Não gosta de queijo, tem esse direito. Tento que dê uma dentada pequenina para não pensar que ele tem o poder total de escolha, mas não insisto mais. Sem dramas.
Se nós adultos temos alimentos de que não gostamos mesmo, porque havemos de ser tão intolerantes com as crianças? Não falo de não apreciar, falo de não gostar, não tolerar mesmo. No meu caso são feijões por exemplo. Lembro-me de chegar ao colégio e ficar logo ansiosa nos dias em que havia a palavra feijão escrita na ementa.
Depois há as crianças que dizem todos os dias que não gostam da comida, mas depois de experimentarem comem tudo sem fitas. Cabe aos educadores e aos restantes intervenientes do meio escolar (em casa é tarefa dos pais, irmãos, avós, tios, etc) tentar o melhor possível ensinar a criança a comer e a gostar de alimentos diferentes. Sim, porque é algo que tem de ser ensinado. E por ter de ser ensinado, agora escrevo mais para os pais, que às vezes vêm ter comigo tão ansiosos com questões destas. Reparem ainda que esta questão é mais da responsabilidade de casa do que na escola. Recebi um menino que só comia sandes e sumos. Ele tinha 4 anos. Essa foi a alimentação dele durante 4 anos. Tentem imaginar como era na escola para tentar que ele comesse algo....! A alimentação é como a educação, vem do berço.
Não há nenhuma ação milagrosa que faça a criança vir a comer bem todo o género de alimentos. O que tenho para partilhar convosco são simples estratégias sobre as quais fui lendo no percurso dos meus estudos e que hoje em dia ponho em prática com o meu filho.
Essas estratégias são tão simples como:
* A coisa mais importante a reter é que as crianças aprendem por imitação. Pensem então naquilo que querem que eles imitem;
* Desde que o Gustavo começou a comer sopa que tentávamos sempre comer ao mesmo tempo que ele. À medida que lhe íamos dando a sopa também nós íamos comendo. Fizemos isso com todo o tipo de alimentos incluindo os sólidos;
* Não forçamos o Gustavo a comer. Se ele rejeita um alimento à partida, tentamos uma vez que o prove. Se ele não quer não insistimos mais (nesse dia, óbvio). Por exemplo, ele não gosta de alface mas todos os dias tem alface no prato. E todos os dias por iniciativa própria ele pega nela e põe na boca. De seguida cospe.
* Não criamos guerras à mesa. Se ele está com pouco apetite nesse dia, come menos. Nós também temos dias com pouco apetite, e outros com muito, certo? Tornar a hora de refeição um drama só vai deixar a criança ansiosa e menos predisposta a colaborar connosco.
* Deixamos que ele coma sozinho. Na verdade ele não come sozinho. Ele suja sozinho. Pega na comida, mexe e remexe, leva à boca, deita fora, repete. Espalha pelo tabuleiro, pela cara, por vezes pelo cabelo. É muito chato e há um dia ou outro em que estamos mais cansados em que não o deixamos fazer. De resto, ele vai cheirando, tocando e saboreando diversos alimentos diferentes.
* Lembram-se da parte da imitação? Eu não tolero brócolos. As irmãs e pai comem brócolos na frente dele. Não posso querer que ele coma algo que mais ninguém cá em casa come;
* E quando somos gulosos? Por aqui o pai, mãe e irmã mais velha são muitoooo gulosos. Por um lado regra geral não temos comida cheia de sal ou açúcar em casa. Maaasss, se nos apetecer mesmo, comemos essas "porcarias" como chocolate ou bolos de pastelaria longe dele. Se ele nos vê a comer chocolate, como vamos depois proibi-lo de ele comer chocolate? Lá está a imitação. Claro que se formos à praia e as irmãs quiserem um gelado comem junto a ele. E se ele pedir um pouco come um pouco. Tentamos evitar mas se tiver de comer come, e não morre por isso.
E pronto basicamente é só isto. Como eu disse, nada demais e nada que não seja possível de ser executado em todas as casas.
Se tiverem por aí mais estratégias digam-me quais. Estamos sempre a aprender!




Frango, couscous e morango

Detesta alface adora tomate

Hoje não quis almoçar. Sem stress lancha melhor




1 comentário:

  1. Aqui a miúda é difícil de comer mas também vamos insistindo sem dramas :)

    ResponderEliminar