terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Despedir de 2019 com um dia em grande

Despedimo-nos de 2019, dia 30. Ainda falta o dia 31, mas este dia foi bom demais para passar em branco. Não trabalhámos e estava um sol como há muito não víamos.
Começámos o nosso dia rumo ao castelo de Sesimbra mas acabámos por seguir até ao Cabo Espichel. De todas as vezes que lá fui, o vento era incrível e fazia uns nós fantásticos no cabelo. Desta vez, nem uma aragem. 
Em pleno inverno num local normalmente mais frio e ventoso, os casacos ficaram no carro. Ainda não eram onze da manhã e o carro marcava 24 graus. 
Nunca me vou cansar de olhar para aquela água azul tao turquesa e de imaginar como seria descer até aquela pequena praia inalcançável. O Gustavo fartou-se de correr por lá de um lado para o outro até que se sentou no chão e ficou a brincar num monte de areia com o seu carrinho novo. A roupa era nova e ficou imunda, mas aí, burrice da mãe.
Durante a meia hora em que o rapaz fez escavações, eu e o Zé sentámo-nos num muro com a cara virada para o sol que estava verdadeiramente quente para esta altura do ano. Não falávamos, mas quase podia jurar que chegámos a ronronar. Um casal idoso muito simpático passou por nós e comentou como era bom ser criança, ao olhar para o Gustavo ligeiramente encardido.
Depois de limparmos minimamente o pequeno, fomos almoçar uma bela açorda de marisco em frente à praia de Sesimbra. 
- E agora já posso ir à praia? - ia perguntando o Gustavo de cinco em cinco minutos.
Quando acabámos de almoçar lá fomos. A felicidade dele quando se descalçou e correu na areia era imensa. Quase como a minha, mas não demonstrei tanto.
O sol queimava mais do que alguma vez me lembro de acontecer em dezembro. A criança ficou de cuecas, como tantas outras que por lá andavam a chapinhar na água. Eu fiquei com inveja das crianças. 
Antes de vir embora ainda deu tempo para parar num café e comer um gelado. 
Entrámos no carro e este marcava 27 graus. Como assim?! Obrigada Portugal, seu país bipolar. Desta vez estiveste bem.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

(re)começámos a festejar o Natal


Há umas semanas partilhei um texto meu, até já antigo, em que escrevia sobre o Natal não ser o mesmo. E realmente não é. A minha avó paterna adoeceu e acabou por falecer recentemente.
O dia 24 de dezembro era celebrado na casa dessa minha avó, portanto  era lá que a família se juntava. Quando a minha avó deixou de estar presente, não sei bem porquê, mas deixámos de nos juntar nesse dia. É como se a minha avó fosse o elo que ligava todos os familiares. Assim, há dois anos que eu não celebrava a véspera de natal. Ficava em casa com o Zé e com o miúdo em casa, no quentinho de pijama.
Como o Gustavo era bebé, acabou por não custar muito deixar de festejar o dia 24. Ele deitava-se muito cedo, e eu achava por bem não o sujeitar a noitadas e horários que sei que o iam deixar muito rabugento.
Este ano já tínhamos pensado não festejar novamente o dia 24. À última da hora, que é como quem diz, no próprio dia 24, acabámos por combinar ir passar a consoada com os meus primos e tios.
A verdade, é que um dia a minha falecida avó também perdeu a sua mãe. E não foi por isso que deixou de festejar o Natal. Não foi por isso que deixou de me proporcionar um Natal muito feliz cheio de sorrisos e comida saborosa. O mínimo que eu posso fazer pelo meu filho, é isso mesmo.
Por muito que me sinta triste por ter menos uma pessoa na mesa de natal, tenho de proporcionar ao meu filho a magia do Natal que me foi proporcionada a mim.  E este ano, voltei a gostar de festejar o Natal, e foi delicioso ver a felicidade do Gustavo nessa data.
Este dia 24 de dezembro, foi só o reinício de todas as próximas consoadas. Que serão muitas, espero eu.

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Guga a salvar o dia com a patrulha pata





quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

As férias e as bruxas


A minha avó sempre disse:
- Não acredito em bruxas, mas que as há, há.
Estive de férias dois diazinhos. Dois. Não havia nada que pudesse correr mal, certo? Errado.
Tínhamos ido passear com o Gustavo, que por sinal se tinha portado incrivelmente bem nesse dia. Apesar de ainda serem seis e meia da tarde, já estava escuro como o breu e tinha começado a chover bastante.
Ao sair do carro peguei o miúdo ao colo e fui a correr para a porta de casa para o rapaz não se molhar. Péssima ideia. Escorreguei, estatelei-me ao comprido e o Gustavo juntamente comigo. Ouvi um “PUM” dele a aterrar no chão seguido dum choro forte. Corri e peguei nele. Ele estava bem aparentemente, só assustado. Fiquei eu mais magoada, e com um sentimento e culpa impossível de explicar.
Agora vou falar-vos das minhas férias de há uns tempos para cá.
Era fim de semana prolongado, em outubro de 2018. Apanhei uma laringite juntamente com uma faringite, levei injeções de penicilina e fiquei deitada os três dias.
Era fim-de-semana de Carnaval. Tinha escolhido um fato para cada dia para mim (adoro festejar o Carnaval em Sesimbra) e outro para o Gustavo. O miúdo vomitou pela primeira vez na vida. Não uma vez. Não duas. Não três, nem dez. Foi de perder a conta. E lá se foi o Carnaval.
Passemos às férias de verão. Não vou falar de ter tirado quinze dias em julho e ter estado sempre frio e chuva. Vou só falar de a Matilde ter aberto o queixo.
Ah, e o feriado de um de novembro de 2019? Fomos a Ovar visitar a família do Zé. Adoro Ovar. Adoro aquela tranquilidade, adoro as ruas típicas com casas em azulejo, adoro a praia do Furadouro. E eis que…. O Zé fica a vomitar e com diarreia (peço desculpa pela visão).
Agora digam-me, mas digam-me mesmo. Estou com a mania da perseguição , ou alguma bruxa me mandou uma maldição??

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O adeus aos 2 anos


Este texto é apenas e só um cliché. Daqueles a que reviramos os olhos até passarmos por eles.
O miúdo vai fazer três anos. TRÊS! Eu acho que as mães que sonham com o mundo da maternidade já pensam “Como raio passou isto tão depressa?”, mas no meu caso, em que num mês não íamos ter filhos e no seguinte eu estava grávida de forma planeada, bolas, a rapidez com que tudo passa (e muda) está a dar cabo de mim.
Em breve, três anos ficarão para trás. Três anos tao maravilhosos como desafiantes. Três anos com muitas gargalhadas mas também muito choro.
São os teus três anos, mas também os meus. Um pouco meus pelo menos.
Juntos ultrapassamos os tempos menos bons que foram os primeiros meses após o parto. Juntámos chorámos com as tuas cólicas: tu porque te doía, eu porque não conseguia fazer nada que te ajudasse.
Juntos gatinhámos, porque eu gatinhava contigo pela casa, e juntos demos os primeiros passos dia 1 de janeiro de 2017.
Tens-me ensinado a ser uma pessoa melhor: mais tolerante, mais calma, mais paciente, menos virada para si mesma. Também me tens criado mais medos: medo de te perder, ou medo que tu me percas.
Ultimamente todos os dias me dás um abraço gigante e dizes que sou a tua pessoa preferida do mundo.  Todos os dias te respondo que também és a minha pessoa preferida do mundo.

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Hospital dos pequeninos - uma boa surpresa

Ainda não vos contei, mas o Gustavo tem pânico de ir ao médico. Não tem medo, tem pânico. É todo um outro patamar. Quando fomos passar uns dias ao Alentejo, ao entrar no hotel e ver as raparigas de farda na receção começou a panicar. Chorou, trepou por mim a cima e implorou para ir embora.
A semana passada os meninos do colégio onde trabalho foram visitar o hospital dos pequeninos. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa. Eu não fui, mas fiquei tentada a levar o Gustavo pela opinião que ouvi das minhas colegas. E ainda bem. 
O José tinha ido passar o fim-de-semana fora e eu precisava com urgência de um programa para fazer fora de casa. Odeio conduzir em Lisboa principalmente para zonas que não conheço bem, mas enchi-me de coragem pelo rapaz.
Para visitar este hospital, cada criança leva um brinquedo com uma doença. O Gustavo levava o seu Dony como brinquedo.
Assim que chegou o Dony foi para a banca de triagem. Fomos recebidos por uma médica muito simpática que quis saber o que tinha acontecido com o Dony. O Gustavo com os seus ainda dois anos, despachado como sempre, rapidamente respondeu que tinha caído do sofá e que tinha batido com a cabeça. Mal tínhamos chegado e eu já estava parva: o miúdo falou com uma rapariga de bata branca com estetoscópio ao pescoço. Nessa banca da triagem ajudou a doutora a pesar e medir o boneco e pos-lhe uma pulseirinha de acordo com o nível de dor que achava que o Dony sentia.
Depois da triagem fomos para outra "salinha". Fomos recebidos por outra médica que fez ao boneco tudo aquilo que o Gustavo detesta que lhe façam: foi auscultado, viram-lhe os ouvidos e garganta, mediu a temperatura.... e o Gustavo ajudou em tudo.
Muitas mais bancas existiam, sempre com médicos vestidos e equipados a rigor: salas de análises, raio X e tac, operações, internamento curativos,  dentista.... durante todo o percurso as crianças são o braço direito do médico que trata os brinquedos. Mais giro ainda é o facto de cada criança também ter direito a uma bata, touca e máscara (o Gustavo só quis a mascara).
Este projeto é realizado por estudantes dos primeiros anos de medicina. Estão de parabéns. Todos demonstraram ter um jeito enorme para lidar com os miúdos e estavam verdadeiramente empenhados em fazer o seu papel o melhor possível. Fiquei super fã do projeto e vou de certeza voltar. Tenho pena que as fotos não façam justiça ao que este projeto realmente é, pois por ir sozinha com o Gustavo tinha de ter mil olhos nele e mal usei o telefone para fotografar. 
Como se não bastasse este programa fantástico ser grátis, à saída ainda deram a cada criança um saquinho com bolachas, fruta, leite, lápis de cor, livro para colorir, seringa de brincar e um bilhete de criança para o oceanário.
A parte má para vocês.... foi só este fim-de-semana que passou, portanto se não foram também já não conseguem ir.... A parte boa.... há todos os anos em novembro (e ouvi dizer que também há no dia da criança, tenho de me ir informar) portanto podem ficar atentas.

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Entretanto o bloguer não está a deixar inserir fotos neste post, mas como vos queria contar esta experiência fica mesmo assim, sem fotos (para já). Desculpem qualquer coisinha.



sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Todos nós, pais, sabemos que os nossos filhos estão tempo demais na escola.


Há pouco tempo, um aclamado psicólogo, de quem até gosto bastante, escreveu sobre o facto de ser quase uma tortura as crianças estarem na escola tantas horas por dia, dez a doze, dizia ele. Desta vez, foi feito um estudo também nesse sentido, dizendo que as crianças passam horas a mais por dia na escola.
A minha questão é: o objetivo desse tipo de artigos é ensinar os pais a fazerem contas, ou é só mesmo fazer com que estes pais se sintam ainda mais culpados?
Uma família com um horário razoável, das nove às cinco,  já vai deixar a criança na escola das oito às seis. E isto é um caso de sorte, atenção. Se a pessoa trabalhar mais longe ou se tiver mais de uma hora de almoço, o tempo de permanência da criança na escola também irá obviamente aumentar.
Hoje saí de casa ainda não eram oito da manhã e vou voltar perto das seis e meia da tarde. Um dia desta semana o Gustavo não tinha dormido a sesta. Eu cheguei a casa perto da hora de jantar e já não o apanhei acordado. Ninguém precisa de me dizer que estou demasiadas horas longe do meu filho, porque eu já sei disso e já me sinto culpada por isso, ainda que não tenha outra opção.
É tempo de parar de fazer com que os pais se sintam ainda mais culpados do estilo de vida que levam e das horas de trabalho que fazem, e passar a tentar encontrar soluções.
É urgente reduzir as horas de trabalho de um dos progenitores, de modo a que a criança possa ir mais cedo para casa.  É urgente que sejam dadas às pessoas condições decentes para serem pais decentes.


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domingo, 24 de novembro de 2019

Quando leio textos antigos

Andei a rever alguns textos mais antigos do blogue. Alguns, por incrível que pareça, nem me lembro de escrever.
Noto uma diferença enorme nos primeiros textos e nos últimos. Nem piores, nem melhores, diferentes.
Sabem aquela sensação de quando chegam por exemplo a um emprego novo e não conhecem ninguém? Dizem bom dia e boa tarde, mas não fazem mais conversas? Sentem-se tímidas e ainda pouco à vontade com aquelas pessoas? Depois com o passar do tempo vão começando a ser mais vocês mesmas?
Pelo menos a mim acontece-me isso. Não porque de início finja ser alguém que não sou, mas não me sinto logo à vontade. Tenho vergonha de tudo o que é novo e dou um passinho de cada vez. Sou muito ansiosa e medrosa, por isso demoro algum tempo até ser eu mesma. Não se trata de ter uma máscara mas sim de precisar de tempo até ganhar confiança nos outros e em mim.
É isso que sinto ao ler textos antigos. Não que quisesse ser alguém que não sou, mas de alguém comedida nas palavras, talvez com medo de como essas fossem recebidas. Talvez por ter medo de comentários depreciativos que pudesse receber.
A cada dia que passa sou mais eu mesma. A cada dia que passa me importo menos com aquilo que possam pensar. A cada dia que passa sou mais Catarina.
Há uma semana atrás uma senhora dizia que seguia o blogue desde o início, mas que a cada texto novo ficava mais desiludida porque já não parecia eu. Pois aqui digo, que cada vez mais me pareço comigo. E cada vez mais vou parecer.

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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A vítima, foi o bebé, naquele contentor junto com lixo.


Um bebé foi atirado ao lixo. Ponto. Ele não foi simplesmente abandonado. Não foi embrulhado num cobertor e deixado à porta dum prédio ou de um café na esperança de que alguém lhe desse uma vida melhor. Isso, eu talvez conseguisse entender (talvez). Foi atirado para o meio do lixo, despido, numa noite fria de novembro.
Tento não ser julgadora, porque não sei nada sobre a progenitora dessa criança. Ainda assim um ato tão hediondo deixa-me sem predisposição para tentar perceber o que quer que seja. Não sei das dores dessa mulher. Não sei se foi violentada nem se a vida lhe virou as costas. O que eu sei, é que há muitas pessoas com vidas incrivelmente miseráveis e que não tentam matar um bebé.
Acho incrível como a opinião de imensas pessoas mudou ao saber que essa mulher não tinha casa. Se primeiro a queriam ver morta numa fogueira para pagar pelo que fez, ao saberem que era sem abrigo já acham que a culpa é de quem não lhe deu a mão. Já li comentários de pessoas a sugerirem que fosse dada uma casa a essa mulher para ter o seu bebé de volta. Como se o facto de ela poder ser ou estar transtornada, possa servir de desculpa para aquilo que fez.
Quando um animal é deitado ao lixo, o Facebook enche-se de comentários de ódio, e com razão, para com a pessoa que fez tal barbaridade. Ninguém quer saber o motivo que levou a pessoa a cometer esse crime. Ninguém quer saber que pessoa é essa, de onde vem, ou aquilo porque passou. Mas um bebé… pff… é só um bebé.
Eu já me pus a tentar entender essa mãe. Já fiz mil e uma teorias na minha cabeça sobre a situação de modo a torná-la menos macabra, se é que isso é possível. Já pensei que talvez a mulher após parir a criança a tenha julgado morta e tenha entrado em desespero. Já pensei que seja mentalmente doente e que tenha sido agredida sexualmente. Já pensei de tudo, para tentar conseguir sentir alguma empatia pela autora do crime, ou para pelo menos não lhe apontar tanto o dedo.
Depois começo a imaginar o meu filho, acabado de nascer, a precisar de estar enroscado no meu peito nu enquanto aprende a mamar. Aquele pobre ser precisava do mesmo.
Podem ter realmente existido falhas que permitiram uma mulher morar na rua enquanto estava grávida, e quem sabe, mentalmente doente. Pode e deve servir de alerta para situações futuras. Mas por favor, o que importa agora é que as pessoas não esqueçam, que a vítima aqui, é aquele recém-nascido, que já amava quem o pariu.


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Fotografia via google.






terça-feira, 5 de novembro de 2019

Quem meu filho beija, minha boca adoça.


“Quem meus filhos beija, minha boca adoça.” 
Foi esta a frase que a mãe de duas crianças que foram minhas alunas, no primeiro e quarto ano, me escreveu.
Aos poucos tenho sentido a força que essas palavras tinham consigo.
Quem ama o meu filho, leva tudo de mim: Quem está presente na vida dele, quem contribui para a sua educação, quem se preocupa com ele…
Para adoçarem a minha boca, não precisam de estar com o meu filho diariamente, nem sequer mensalmente. Mas precisam de se importar. Precisam de querer saber dele.
Não é o Gustavo com dois anos que tem de pegar no telefone para telefonar a alguém, são os adultos que tenham interesse que devem ligar para ele. Mas o engraçado, é que o miúdo já começa mesmo a pedir para telefonar para falar com as manas ou com os avós, e telefonamos.
Também não é o Gustavo que tem de pegar no carro para ir visitar ninguém, posso estar a falhar como mãe mas ainda não o autorizei a tirar a carta.
Gosto muito de uma frase que certo dia li que diz “Ninguém tem de correr atrás de ninguém, dá para andar atrás um do outro”. Podem pasmar-se, mas o miúdo vai fazer três anos e existem (supostos) familiares diretos que ainda não o quiseram conhecer. 
Por mim está tudo ótimo, mas daqui a uns anos se por acaso nos cruzarmos e o Gustavo não quiser dar beijinhos, não faço questão que dê (sou má pessoa se fizer questão que não dê mesmo?)
Família não é sangue. Família é coração. Família é quando alguém não consegue estar assim tão presente fisicamente na nossa vida, mas telefona a dizer “espero que o menino esteja bem”. Família é quem arranca gargalhadas do miúdo. Família é quem nos quer, ainda que à distância de uma mensagem no telefone.




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Fomos ao parque..... quis esmurrar uns pais.

Lembro-me de ser pequenina e correr todos os parques e mais alguns. Os meus pais dizem que possivelmente conhecia os parques todos do distrito e mais alguns, e é capaz de ser verdade. Talvez por isso, e porque detesto estar fechada em casa com o miúdo,  sigo o mesmo caminho com o meu filho.
Idas ao parque deviam ser apenas e só momentos de diversão em família. Por vezes comigo, tonam-se em momentos de grande irritabilidade. Bater, morder, empurrar, gozar, são coisas de miúdos isso é certo. O que me irrita é apenas a postura desinteressada dos responsáveis por esses miúdos. 
Eu acredito que dê menos trabalho os pais chegarem ao parque, soltarem o filho, e ficarem descansadinhos da vida. Acontece que a educação e os valores que devemos ensinar aos nossos filhos não têm hora marcada.
Os miúdos são miúdos. Vão fazer coisas que os miúdos fazem, ainda que essas coisas magoem outros miúdos. O problema é que os pais são pais mas não têm pachorra para realmente o serem.
O Gustavo faz coisas de miúdos. Põe-se a subir o escorrega impedindo que as outras crianças desçam, tira a bola de outras crianças, ocasionalmente empurra e é perito em tentar furar filas. E nesses momentos, eu ou Zé intervimos. Explicamos que subir o escorrega realmente é bem mais divertido, mas que temos de permitir que as outras crianças que estão à espera desçam. Mostramos que ao tirar o brinquedo a outro menino, está a deixar esse menino triste, e damos a sugestão de pedir que lhe emprestem o brinquedo ao invés de o arrancar das mãos dos outros e fugir. Dizemos que não se empurra nem se bate nas outras crianças, e neste ponto não há “mas” nem “meio mas”. Ensinamos como é estar numa fila e esperar pela sua vez. Umas vezes temos sucesso, outras nem por isso.
Mas há pais que simplesmente não querem saber. Fazem valer-se do “eles são crianças eles que se entendam” para fugir a uma responsabilidade que é sua. Veem o filho a ter comportamentos altamente incorretos mas a preguiça de se levantarem para irem resolver o assunto é muita.
O Guga estava sentado para descer o escorrega. Um rapaz mais velho, com cerca de oito anos, subia o escorrega e sentava-se na frente do Gustavo com ar de gozo a olhar para mim. Os pais deste rapaz ao longe achavam muita piada à situação.
- Mamã eu queria descer. – disse o Gustavo.
- Desce filho.
- Não posso está aqui o menino.
- Desce na mesma. O escorrega é para descer por isso o menino vai sair daí agora!
Quase me senti culpada por falar assim para outra criança.
 Estava um rapazinho com cerca de três anos a andar de baloiço quando o mesmo rapaz mais velho o empurrou e o fez cair do mesmo. Os pais deste rapaz mais velho, no muro bem ao fundo onde estavam sentados, riram-se. Eu, respirei fundo, e agradeci por não ser  o Gustavo a ter sido empurrado.  Caso contrário eu e o Zé possivelmente perderíamos a razão (ok, eu perderia a razão) e estaríamos a falhar como pais, tal como esse casal de acéfalos falhou.
Só eu é que não acho normal existirem pais que vêem os filhos a serem mauzinhos com outras crianças e não fazerem nada? 

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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Divórcio- amigos à vista?

Muitas das relações têm início no ensino secundário ou superior, o que significa que regra geral, os amigos de um são também os amigos de outro. 
Quando há um divórcio, dificilmente os membros do ex-casal ficam amigos. Podem ficar cordiais, manter uma relação saudável, ser educados ….. mas raramente ficam amigos e raramente querem continuar a estar juntos nas mais diversas ocasiões. São raras as vezes em que uma relação acabe completamente a bem, portanto possivelmente até muda a forma como se vê a outra pessoa.
Também há aqueles casos em que o ex casal se fica a odiar e as únicas trocas de palavras entre ambos são ofensas (pobres das crianças, quando existem).
Isto significa que os amigos do casal, aqueles que são verdadeiramente amigos dos dois, acabam por escolher um lado. Há sempre aquelas bonitas palavras que ficam bem e que muitas vezes são sentidas, do “vai continuar tudo igual”, mas não fica.
Continuam a existir natais, aniversários, jantares e até férias entre amigos. Depois de um divórcio, é preciso escolher um lado: qual dos dois vai continuar a ir?
O ex marido e a ex mulher não querem continuar a conviver em conjunto (e não me parece nada estranho que assim seja, também não convivo com exs namorados). Foi precisamente para não estarem juntos que se divorciaram. Ainda que seja difícil para os amigos, nos próximos eventos sociais, vão começar a convidar apenas um dos membros do casal. Por um lado não querem mau ambiente, por outro lado têm noção que nunca iriam os dois.
Para a ex mulher ou para o ex marido, tudo continua igual. Para o outro, tudo fica diferente.
De um dia para o outro para além de perder a sua cara metade (ainda que tenha sido opção sua, não deixa de custar), perde as suas rotinas e aqueles com quem as partilhava. Aos poucos um dos dois, deixa de ser convidado para o tal jantar ou para a grande festa. Não recebe mais convites para aniversários nem para férias. Vai recebendo mensagens dos amigos a dizer que depois têm de combinar alguma coisa, mas todos sabem que isso não vai acontecer.
Eu e o Zé conhecemo-nos no trabalho. Trabalhámos juntos durante cerca de quatro anos. Fizemos portanto grandes amizades no local de trabalho. 
Antes de o Zé ter ido trabalhar para aquela escola, já eu lá tinha pessoas que queria levar para a vida. Mas depois chegou o Zé, com aquele jeito fácil de se gostar, e essas pessoas também querem levar o Zé para a vida.
Muitas vezes estamos com esses amigos. Combinamos os tais jantares, festejamos aniversários, entramos juntos no ano novo. Mas agora que estou aqui a escrever sobre isto ponho-me a pensar: se um dia por algum motivo eu e o Zé nos separássemos, qual de nós continuaria a ser convidado, e qual ficaria abandonado?

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(Fotografia site globo retirada da google)










quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O professor que agrediu o aluno - e todos os professores já agredidos


Um professor terá agredido um aluno de 13 anos, quando este se recusou a entregar-lhe o telemóvel. É esta a notícia quem feito correr tinta nos jornais, passado em rodapé no telejornal e incendiado as redes sociais.
Esta notícia irrita-me como a porra por dois motivos distintos.
O primeiro motivo é a solidariedade que vejo de outros professores para com este professor. Mais que isso, é o aplaudir de colegas à postura deste senhor. Eu não estava lá para ver, mas de acordo com o que saiu nas notícias, o professor terá insultado o jovem verbalmente chamando-lhe de filho da p*ta, cabr*o entre outros. De seguida, terá atirado com a cabeça do jovem contra a mesa com força, fazendo com que este tenha recebido tratamento hospitalar. Não sei o que terá despoletado este comportamento, o jovem pode até ter feito frente ao professor e ter sido incrivelmente mal educado, mas nenhum profissional da educação pode ter um comportamento deste género.
Acredito que o professor não estivesse bem mentalmente, e também acredito que ninguém está livre de ser levado ao limite e de ter ações criminosas como esta. Ninguém mesmo. Ainda assim, não desculpabiliza a ação do senhor e só tem de sofrer as consequências. Este senhor foi detido e aguarda que lhe sejam aplicadas medidas de coação.
Outro ponto que me irrita tanto ou mais como este é o seguinte: onde está o sentido de justiça e a imparcialidade? A semana passada duas auxiliares e um professor foram fortemente agredidos pelo pai de um aluno. Foram socados e pontapeados, tendo todos que receber tratamento hospitalar. Este senhor não foi detido. Casos como este ocorrem todas as semanas, mas todas mesmo. Porque raio estes casos não interessam à comunicação social? Porque raio todos podem agredir professores e auxiliares e não serem sequer chamados à atenção, quando mais detidos?
A maioria das pessoas está incrivelmente revoltada com a agressão do professor ao aluno, mas são poucos os que se incomodam com as agressões de alunos (e se as há) e familiares a professores.
Todas as semanas profissionais da educação são insultados e agredidos durante o exercício das suas funções. Mas ninguém quer saber. A falta de professores está a tornar-se uma realidade em Portugal, e pelo modo como a comunicação social e o próprio estado tem vindo a tratar esta classe, não me admira que venha a piorar.
Nessa altura, todos esses que tanto julgam e apontam o dedo aos professores, deviam ficar em casa a dar aulas aos filhos.



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Fotografia retirada do google br

domingo, 13 de outubro de 2019

Desfralde - o meu erro parte 2


(continuação) ...

Como escrevi no post anterior (ler aqui ), não respeitei o meu filho no que dizia respeito a largar as fraldas. Certo dia fez cocó na roupa, e foi um pandemónio. O cocó escorreu por ele, foi andando em cima do cocó, ficou basicamente barrado em cocó e muito assustado. 
Desde aí, o Gustavo ficou com medo do cocó. Parece parvo, e em certa medida é, mas na sua cabeça tola faz sentido.
O Gustavo já anda sem fralda por iniciativa dele. Não quer fralda e faz os chichis no bacio ou na sanita. Os descuidos são muito raros.  Quando sente vontade de fazer cocó, pede em stress para lhe por uma fralda depressa.
Comecei a reparar que fazia cocó com menos frequência. Quando começava a ter vontade, vinha a correr ter connosco a pedir “um abacinho”. Certo dia disse à irmã do meio que estava muito preocupado. Quando ela lhe perguntou o que o preocupava, respondeu que era com o seu cocó porque tinha medo dele.
Hoje em dia, quando sente que tem de fazer cocó , faz força, mas é para o cocó não sair. Diz que tem me meter o cocó para dentro. Chega a estar nisso doze horas até não aguentar mais.  Pergunta sempre se pode fazer cocó e se não vai ficar sujo.  Quando lhe respondemos que pode fazer cocó à vontade e que não tem mal nenhum, responde que tem muito medo do seu cocó e que não quer que ele saia.
Tudo isto se tem revelado num efeito bola de neve. Como tem medo de fazer cocó, faz força para não o fazer. Quando finalmente o faz, passadas horas,  o cocó é muito mais rijo e por isso sente dor. Como sente dor, fica com mais medo de fazer cocó. E pronto, andamos assim.
Entretanto já pedi uma opinião a uma psicóloga, que me disse para lhe dar os abracinhos quando pedir mas para não muito importância à frente dele, para ver como corre, não vá ser uma chamada de atenção. Por outro lado também disse que para nós pode ser sido uma coisa normal e até algo cómica, mas para ele ter sido traumático. Se continuar, recomendou marcar consulta na pediatra. Portanto isto tudo, porque eu achei que era melhorar ele deixar a fralda para eu não ter de aturar comentários estúpidos (que atenção, continuam).
Queridas leitoras mães e futuras mães: por favor, borrifem-se sempre nos palpites dos outros, mesmo das pessoas bem próximas de vocês. Façam o que vocês acham ser melhor para o vosso filho, pois as mães têm quase sempre razão.
Por aqui, vamos tentar dar a volta à situação da melhor forma. Com muita calma e ao ritmo do rapaz.

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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Desfralde - O meu erro parte 1


Cometi um erro, essa é a verdade.
Comecei o desfralde do Gustavo tinha ele cerca de 27 meses. Apesar de ele já falar e saltar (há quem veja isso como indícios de estar pronto para o desfralde) achei que era muito imaturo para lhe tentar tirar a fralda.
Demorou pouco tempo até começar a ser bombardeada com a pergunta “Então e quando é que ele tira a fralda?”. Faziam-me essa pergunta constantemente. Certa vez chegaram a fazer-me a seguinte observação “Ainda de fralda? Ainda por cima com uma mãe educadora.” Não foram uma nem duas vezes que me disseram coisas do género.
Uma coisa que podem não saber sobre mim, é que não sou a pessoa mais confiante do mundo. Ao dizerem aquilo sobre mim comecei a sentir que era posta em causa quer como mãe quer como educadora. De facto, muitos miúdos de 27 meses já não usam fralda, embora existam outros tantos que usam.
Achei então que se calhar o problema era meu, e que se calhar devia insistir nessa coisa de lhe tirar a fralda. Comecei mesmo a sentir-me ansiosa de ir com ele a alguma evento de família ou amigos, porque já sabia que lá vinha a porcaria da conversa das fraldas. E não me enganava mesmo.
Dei início ao desfralde, e ele até colaborou minimamente. Sentava-se na sanita e no bacio e muitas vezes fazia lá chichi. No entanto se estivesse sem fralda e fizesse o chichi no chão achava a maior piada do mundo, era uma festa. Não ralhei com ele uma única vez quando se descuidou, mas elogiei-o imenso sempre que fez no bacio ou sanita.
Certo dia deixei-o se fralda, mas em vez de fazer chichi fez cocó. Não imaginam, o que se seguiu. Assustou-se imenso. Chorou, tremeu, só pedia colo completamente em pânico. Depois de o lavar, pediu por favor para lhe por uma fralda. E pus.
Nesse momento senti-me a pior mãe do mundo por ter posto a opinião dos outros à frente das necessidades do miúdo. No fundo também o queria proteger de estar constantemente a ouvir pessoas dizerem que ele tinha de deixar a fralda.
Decidi então que só voltava a abordar esse assunto quando eu achasse que era altura. Decidi respeitar o ritmo do meu filho. Escrevi sobre isso no blogue e uma estúpida (não tem outro nome, desculpem) comentou que eu “era mas é uma grande preguiçosa e que não estava para ter trabalho, então enfiava uma fralda no puto”
Esta história do desfralde não fica por aqui, porque esta insistência de minha parte teve consequências negativas …. Mas isso vai ter de ficar para o próximo post porque este já vai longo….

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terça-feira, 8 de outubro de 2019

A minha história no vosso blogue - filho dependente


Aos vinte anos conheci o pai dos meus filhos. Namorei apenas nove meses até me casar. Entretanto divorciei-me e vivo com o meu companheiro, o amor da minha vida, que ama os meus filhos como se fossem dele.
Das três gravidezes, apenas as duas primeiras foram planeadas. A minha história, é sobre o meu filho do meio.
A gravidez foi planeada e desejada e correu muito bem, sem qualquer tipo de percalço. Após o nascimento, desde cedo me comecei a aperceber de que algo não estava bem, ou que alguma coisa era diferente relativamente a outras crianças da mesma idade. Foi também após o nascimento que engravidei de seguida sem estar à espera.
Estava então grávida quando notei que o desenvolvimento do meu bebé não era normal. Andava com ele em diversas terapias pois também os médicos sabiam que algo se passava, apesar de não saberem exatamente o quê. Passando a vida entre terapias e tendo de dar um apoio constante a esse meu filho, ainda por cima grávida tive de deixar de trabalhar.
Passado algum tempo não era só a questão do desenvolvimento estar atrasado. Começou a dormir cada vez menos e a tornar-se agressivo. Era agressivo principalmente consigo mesmo, mordendo-se e tentando comer as unhas. A rotina assumiu o controlo lá de casa, pois tinha de pensar primeiro naquele filho e nas suas necessidades.
Tinha o meu filho já catorze anos, quando encontrei um médico espetacular que depois de diversos exames diagnosticou o meu filho com uma doença rara chamada Smith Meganis. Pode parecer estranho mas senti um alívio, pois eu sabia que algo se passava com ele e foi um descanso finalmente saber exatamente o que era.
Esta doença rara é uma doença genética caracterizada por défice cognitivo e consequente atraso no desenvolvimento, dificuldade em dormir e agressividade, que regra geral é ainda acompanhada por anomalias ao nível do crânio.
Os apoios para estes casos dados pelo nosso estado são escassos a todos os níveis. No nono ano acabei por retirá-lo da escola pública por considerar os apoios prestados insuficientes. Está desde essa altura a ser acompanhado pela fundação Nuno Silveira. Como é uma doença rara, também não existe nenhuma associação que dê resposta a esta doença específica.
A minha vida gira em torno deste filho que será sempre meu dependente. Ocasionalmente consigo ir por exemplo jantar fora, deixando-o sempre acompanhado. Tenho de tratar dele como se fosse um menino pequeno. Dou-lhe banho, faço-lhe a barba e visto-o. Ainda assim consegue ir sozinho à casa de banho e também é relativamente autónomo no que diz respeito à alimentação.
Dizemos que para nós, os nossos filhos vão ser sempre os nossos bebés. Neste caso é isso mesmo, mas somos uma família muito feliz.


Paula Nogueira, 50 anos, Rio Tinto

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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Pensar na morte, depois de ser mãe.

Sempre tive algum medo da morte. É aquele "local" desconhecido sem certezas absolutas. Ninguém sabe realmente como é morrer porque nunca ninguém voltou para contar. Gosto de pensar que depois da morte, não há nada, apenas deixamos de existir e de sentir. Se for realmente isto, menos mau. Depois penso nalgumas teorias ou opiniões de que voltamos a nascer noutro corpo, ou que ficamos lá em cima (seja lá onde isso for) a ver tudo o que passa cá em baixo, e desejo seriamente que seja eu a estar certa.
Tento simplesmente não pensar neste assunto porque me assusta um pouco, mas desde que o Gustavo nasceu ficou mais difícil não pensar nisso.
E se um dia eu morrer? E se brevemente eu morrer? Parece tão estúpido pensar nisto. Depois vejo as notícias, e apercebo-me de que todos os dias morrem pessoas da minha idade, seja por doença ou acidente. É pouco provável, mas as outras jovens da minha idade que faleceram pensavam o mesmo.
Devia agarrar-me ao facto de ser mesmo pouco provável e nem sequer pensar nisso, mas como pessoa pessimista que sou, penso antes "se aconteceu com elas, pode acontecer comigo".
No último ano, duas crianças que conheço e com quem convivi de perto, perderam a mãe por motivo de doença. As mães eram duas senhoras normalíssimas e felizes. Nada faria prever que ficassem doentes. Num dia estavam bem, no outro dia estavam doentes. Num dia estavam cá, no outro não. Num dia essas crianças eram felizes e ouviam histórias de boa noite contadas pelas mães, no outro dia não.
Todos os dias chego a casa e o Gustavo vem a correr ao ouvir a campainha. Ouço-o lá dentro com risinhos de excitação perguntar ao pai se é a mãe.  E se um dia não for? E se um dia a mãe não voltar?
Uma parte de mim não quer sequer colocar essa hipótese, outra parte de mim pensa nas duas crianças que conheci.
Fico cheia de dúvidas e de preocupação. As minhas grandes amigas iam continuar a estar com o Gustavo? Porque imagino que fosse estranho combinarem alguma coisa com o Zé para verem o Gustavo. Logo o Zé que não combina nada com ninguém, nem com os seus amigos ou família. E como ia o Zé gerir tudo sozinho? Mais que isso, como ia aguentar? Ia o Gustavo viver num ambiente de depressão e tristeza? E as pessoas todas em redor da nossa vida, iam apoiar o Zé e miúdos mesmo para sempre? Ou só naqueles primeiros tempos em que o sofrimento é novidade?
Não sei como é que uma família supera uma perda destas. Não imagino a dor com que se deparam. Não sei como conseguem aprender a lidar com isso. 
Passo largos momentos a pensar nisto. Fico a sentir-me sem ar e enjoada. Ultimamente acontece quando ele adormece e fico a olhar para carinha perfeita e tranquila do Gustavo. 
Não sei se acontece com mais alguém, mas eu sinto-me um misto de ridicula e parva por não viver o momento com os meus medos.


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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Gabriela no fim dos catorze


A Gabriela faz 15 anos.
Quando estamos juntas na rua ainda somos confundidas com mãe e filha, mas cada vez mais como irmãs. Acho ótimo. A miúda está a ficar velha mas eu continuo jovem.
Às vezes alerto o Zé para certas questões relacionadas com essa idade, mas ele acha que ela ainda só faz quinze anos. Já eu acho que ela já faz quinze anos.
O Zé coitado, não se lembra dos seus quinzes anos, já foram há bem mais tempo que os meus (muahahah).
Ponho-me então a pensar nos meus quinze anos e fico na dúvida se devo fazer algumas confissões sobre essa idade ao Zé. Talvez seja melhor não. Por um lado, para o Zé não entrar em pânico, por outro lado porque a minha mãe segue o blogue.
Pessoas da minha idade (31) dizem frequentemente que os miúdos de hoje em dia crescem depressa demais e rapidamente se tornam rebeldes. Depois lembro-me de mim, e dessas pessoas com essa idade.
A grande diferença para mim, são as tecnologias. Efetivamente vejo menos crianças e jovens a brincar ou simplesmente estar nas ruas, e a estarem muito mais tempo em casa em frente a uma televisão ou computador.
Até aos meus catorze anos ia todas as noites para a rua com os miúdos do meu prédio, éramos imensos. Se enquanto éramos mais novos jogávamos às escondidas, mais crescidos andávamos de bicicleta ou apenas estávamos ali, na noite, sentados no muro a conversar sobre tudo e sobre nada.  Mas no que diz respeito a namoricos e curtes, era exatamente a mesma coisa.
É verdade que com essa idade não andava com as maminhas de fora como muitas miúdas hoje andam, mas a bem ver, não as tinha. Também não me maquilhava tipo Kim Kardashian, mas ainda hoje não o sei fazer. Não fumava porque não suportava o cheiro do tabaco, mas ainda me lembro de nas horas de almoço da escola irmos para um parque lá perto com umas belas garrafas de vodka. Eu só molhei os lábios, mas dois amigos meus ficaram de tal modo que de tarde, vomitaram a sala de aula inteira, incluindo a professora.
Acho que os adolescentes não mudaram assim grande coisa, nós é que mudámos porque estamos a ficar cotas e agora temos talvez um pouco de inveja desses tempos de glória.
Força Gabi, aproveita a vida na descontra enquanto podes.




Gabriela, a estilosa

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A minha história no vosso blogue - tirar a vida à minha filha


Quem me conhece sabe que gosto de ter tudo controlado e quando pensei em aumentar a família não foi diferente.
Estávamos em 2013  e decidimos ter o nosso primeiro filho. Fiz todos os exames possíveis antes da gravidez e porque não queria começar esta nova etapa e depois descobrir que havia problemas por tratar.
Mal começámos a tentar, engravidei. Foi uma imensa felicidade para toda a família!
Fiz a minha primeira ecografia às onze semanas. O médico achou melhor repetir às treze semanas alegando que o bebé estaria mais desenvolvido.  Repeti a ecografia e o médico afirmou estar tudo bem. O médico de família concordou, e eu estava radiante, vinha aí o meu bebé.
Chegou o dia por mim mais aguardado, a ecografia morfológica. Estava grávida de vinte semanas e muito curiosa por saber o sexo do bebé (desejava muito uma menina). Fui a uma médica xpto recomendada por imensas pessoas, pois a situação de ter de repetir a primeira ecografia tinha-me deixado um pouco nervosa.
O pai do bebé estava a trabalhar, por isso foi a minha irmã que me acompanhou enquanto a médica me fazia a ecografia.
“Se me conhecesse, sabia que o facto de não estar a falar muito era mau sinal… mas vou explicar-lhe tudo com calma”. Foram estas as palavras que começaram o meu pesadelo.
“Começamos pelos rins mãe. Má formação grave num deles”. Ok pensei eu, pode viver só com um rim. “O bebé tem seis dedos em casa mão”. Sem problema mais uma vez, não era grave e podia ser operado mais tarde. Mas os problemas continuavam: fenda labial grave, problemas no coração e partes do cérebro que não tem. Probabilidade enorme de morrer ainda antes do nascimento.
Percebi que era mau, muito mau. Descobri também que o meu bebé, que mexia, dava pontapés e reagia à minha voz, era a tão esperada menina.
A médica chamou outra colega para uma segunda opinião, e ambas desconfiavam que fosse trissomia 13. Explicaram que devia ser encaminhada para o hospital, onde decisões teriam de ser tomadas, pois ainda que a bebé nascesse viva, não iria sobreviver muitas horas. A minha decisão de não avançar com a gravidez estava tomada mesmo antes de falar com o pai.
Pensei que seria chegar ao hospital e resolver tudo na hora, seria mais fácil assim, como arrancar um penso da pele. Mas fui enviada para casa onde iria aguardar enquanto tratavam do processo. Fosse lá isso o que fosse.
Foram as piores semanas da minha vida. A minha bebé estava dentro de mim, viva, a reagir a todo o tipo de estímulos, e eu só pensava em acabar com a sua vida. Comecei a rejeitar a minha filha, pois amá-la doía demais. Implorava para que ela não se mexesse para não me relembrar que tive um bebé desejado e vivo, dentro de mim.
Fui chamada à maternidade para tratar de questões burocráticas. Durante esse processo foram incrivelmente frios comigo e desumanos com a minha dor. Obrigam-me a fazer uma ecografia e a voltar a ouvir o coração da minha menina. Como se fosse preciso que me relembrassem que ela estava viva e que eu é que tinha de lhe tirar a vida. Como se não bastasse, mandam-me para casa esperar mais duas semanas porque não tinham vaga antes para tratar do assunto. O assunto era por fim à vida da minha filha.
Passei essas semanas fechada em casa. A gravidez era visível e não queria perguntas. A minha filha mexia-se constantemente como que a implorar um desfecho diferente.
Os dias arrastaram-se até à véspera do internamento onde me despedi da minha filha e pedi-lhe desculpa pela minha decisão, senti culpa pois estava a escolher perdê-la, no meu coração pairava “e se for tudo engano?”
Dei entrada numa sexta-feira, estávamos em Fevereiro 2014.  Deram uma injeção no coração da minha filha para parar de bater (estes bebés não nascem vivos). Esta parte foi incrivelmente violenta para mim, ter de estar ali assistir a tudo. Segui para o quarto onde nas camas ao lado eu achei que estariam mães como eu mas o que encontrei foram duas mães a abortar de bebés saudáveis. Foi uma  crueldade para mim ter de ficar ali, a minha raiva era proporcional à minha dor... A  minha filha que tanto desejei tinha de desaparecer. E ali estavam elas, a tirar a vida a bebés saudáveis e perfeitos.
Sábado à noite começo com contrações fortes e vou para a box. Tenho um desvio na coluna por isso sou picada sete vezes até conseguirem apanhar sítio para darem a epidural. A anestesista é brusca comigo dizendo para parar de chorar pois não tarda já tenho o meu bebe... não sabe que não vou ter o meu bebe...
A indução continua, é domingo de manhã e dizem-me que quando tiver vontade de fazer força que faça. Deixam-me a mim e ao meu marido sozinhos. Afinal aquele bebé já está morto, não precisam de cuidados para que não tenha problemas no parto. Vomito, sinto a minha filha quente a sair, tocamos a campainha.  Quando finalmente alguém chega, traz uma bandeja para por a minha filha. Grito que a tirem das minhas pernas, não a quero ver nem sentir.
O meu único arrependimento é não ter visto nem pegado na minha filha, gostava que alguém tivesse tirado fotos para quando eu fosse capaz conhecer a minha filha, gostava que a tivessem enrolado num lençol e fosse tratada como bebé e não lixo orgânico.
Seguiu-se um longo período de recuperação mental. Tive apoio psicológico que ajudou muito, e amor das pessoas ao meu redor.
 Durante o período pós perda eu fui uma pessoa diferente, amarga, revoltada, invejosa. Eu queria tanto ser mãe, o sentimento de injustiça era gigante.
O tempo passou e eu fui recuperando. Em novembro 2014 chega o esperado positivo. A minha filha nasce 2015 e hoje em dia sou uma pessoa radiante. Em 2018 nasce o mano e agora sou uma pessoa completa!
Uma experiência destas marca-nos, hoje sei que ser mãe não é um dado adquirido, quero quebrar tabus, a minha filha sabe da mana que não conheceu e falo abertamente do assunto, se eu tivesse ficado presa naquela dor perdia as coisas boas que me esperavam no caminho. A todas as mães de anjo sintam-se abraçadas, o golpe é duro mas o final feliz compensa o esforço de colar cada pedaço do nosso coração.

Carla Ribeiro


O meu anjinho

O meu final feliz.