domingo, 30 de agosto de 2020

Entre o acabar e o modificar

 Criei este blogue numa altura em que estive desempregada. Na altura, tinha um propósito para mim: estar ocupada. Não ganhava (nem ganho) nada com isto, mas sentia-me útil, ainda que fosse útil apenas para mim e não tanto para quem pudesse ler.

O tempo foi passando e fui por aqui ficando. O click na altura, surgiu com o texto em que falava da minha depressão pós parto. Recebi bastantes mensagens de outras mães que passaram pelo mesmo, e cheguei mesmo a dar o nome da médica que me seguiu a algumas mulheres que procuravam ajuda especializada. Quando me iam dizendo que tinham adorado a médica e que o meu texto tinha sido o ponto de partida para perceberem que não conseguiam sozinhas, senti-me muito feliz por ter podido ajudar.

A partir daí, pensei que talvez, com as minhas dúvidas, medos e partilhas, pudesse ajudar outras pessoas. Ou talvez apenas entreter. E assim fui continuando.

Nos últimos meses tenho-me deparado com a falta de tempo (e talvez até de vontade) para escrever por aqui. E não me faz muito sentido fazê-lo por obrigação.

Tem-me passado pela cabeça terminar este meu projeto, por sentir que já fiz, neste âmbito, o que pretendia fazer. Também já me passou pela cabeça alterar um pouco o rumo da coisa. E já me passou também, ir deixando andar, e logo se vê.

Nestes três últimos anos, têm existido fases em que escrevo imenso, várias vezes por semana, e outras em que não escrevo sequer todos os meses.

Não sei exatamente o que vai sair daqui futuramente, se é que a opção vai passar por continuar. Claro que, por respeito, nunca iria embora sem me "despedir" de quem tem estado desse lado. Se optar por modificar um pouco o rumo das coisas, também aceito que há quem parta. No fundo, o que importa é que faça sentido. Seja para quem escreve continuar a escrever, seja para quem lê continuar a ler. 


Entretanto, enquanto me debato com as minhas crises existenciais, podem continuar a acompamhar a minha vida em fotos aqui  .








quinta-feira, 18 de junho de 2020

A estreia do miúdo no oceanário

Hoje venho escrever-vos sobre a nossa primeira ida ao oceanário.

Eu já tinha ido algumas vezes enquanto educadora e o Zé enquanto professor, mas nunca tínhamos ido juntos. A Matilde também já tinha ido com a escola, e para o Gustavo, foi uma estreia.

Foi na manhã do feriado que perguntei ao Gustavo se ele queria ir ao Oceanário. Já lhe tinha falado disso algumas vezes e ele já tinha visto fotos. Respondeu um grande “sim” muito satisfeito.

Já tínhamos pensado nisso algumas vezes, mas o valor elevado (para a nossa carteira claro) fez sempre com que fosse adiado.

Só depois de já ter combinado com o miúdo ir ao aquário gigante, em conversa com uma amiga enquanto lhe falava dos meus planos para uma tarde em família, ela me responde que nos arranjava bilhetes a metade do preço para os adultos (as crianças seriam grátis, como também foram no feriado). Ainda tentei negociar com o meu filho, mas ele é de ideias fixas e já estava a contar ir.

Quando chegamos deparei-me logo com uma grande fila. Respirei fundo e pensei “aguenta, há aqui muito espaço para os miúdos correrem enquanto estamos na fila”. Esperei uma hora na fila, no meio de frio vento e chuviscos. Também já tinha alguma fome.

Mal chega a nossa vez, o Gustavo pede colo ao pai. Diz que tem medo de ser comido por um tubarão ou por um peixinho. Se por um segundo se entusiasmava com aquilo que via no aquário, no segundo seguinte gritava para ir embora porque aquilo não era nada giro. Nem às lontras ligou, nem sei se chegou a olhar para elas. Não quis olhar para os pinguins, que tinha adorado ver no Zoo. Perto do primeiro aquário havia um jogo de cubos para formar peixes. Não queria sair de lá, pelo que teve de sair arrastado. Esteve o restante tempo a fazer birra porque queria o jogo dos peixes. (Não sei como são as birras dos vossos filhos, este abre a goela, berra, bate os pés, e não verga. Pode estar nisso cinco minutos ou uma hora. Umas vezes conseguimos que se acalme, outras não, faz parte.) A parte de baixo do Oceanário foi vista a correr, mais ainda, em modo flecha. Acho que nem se pode considerar vista. Mesmo no final, havia uma salinha pequena com atividades para os miúdos onde estava um escorrega. Pronto, foi o momento alto do dia. Meia hora a visitar o oceanário inteiro e outra meia hora no escorrega.

Para finalmente sairmos, tivemos de atravessar uma loja cheia de coisas giras e chamativas para as crianças (espertinhos…) e claro que o rapaz quis levar qualquer coisa. Na verdade quis levar duas coisas. Noutro dia eu não tinha cedido, mas aquilo que escolheu não era assim tão caro e eu não aguentava mais uma gritaria, já tinha a cabeça a latejar. A Matilde escolheu uma caneta que em menos de uma hora foi parar ao lixo por engano no meio de papeis.

Ao chegar a casa, reparei então que o jogo e o peluche que ele tinha trazido não foram quinze euros juntos, mas quinze euros cada. Fixe.

No dia seguinte, mal acordou, o Gustavo perguntou quando ia novamente ao Oceanário porque tinha gostado muito, principalmente do escorrega e da loja.

Enquanto me lembrar, não volto a por os pés no oceanário. Fiquei ligeiramente traumatizada. Todas as crianças que conheço adoram lá ir... menos o meu, claro.


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segunda-feira, 25 de maio de 2020

Com o coração nas mãos (ou nas costas)

Tenho problemas nas costas desde os meus doze anos mais ou menos. Sempre tive uma escoliose ligeiramente acentuada que se traduziu em constantes dores nas costas. Fui fazendo exercícios próprios e fisioterapia, mas sem grandes resultados.
Durante a gravidez, as coisas pioraram bastante. Penso que seja comum a qualquer grávida que já tivesse problemas na coluna. Após a gravidez, nunca deixei de ter dores nas costas, já lá vão três anos. 
Cerca de seis meses após o parto, fui a uma consulta e fiz diversos exames que revelaram que para além da escoliose ter piorado, tinha também discos das vertebras gastos e desidratados. A opinião do médico foi para evitar esforços e fazer algumas aulas tipo pilates.
Dois anos passaram, e as dores não só não melhoraram, como pioraram e muito. Voltei ao médico, a outro médico, onde me foram receitados dois tipos de medicação e fisioterapia. Passados dois meses de o fazer, deveria voltar à consulta de modo a avaliar e de modo a serem prescritos novos exames caso necessário. O covi19 tratou de me adiar tudo.
Mesmo com a medicação e a fisioterapia não notei qualquer melhoria. Tenho consulta esta semana e admito estar um pouco ansiosa e preocupada. Tenho trinta e um anos, e dores nas costas que me acompanham todo o dia. As noites são o pior. Se nem com uma medicação própria e fisioterapia melhorou, assusta-me um pouco o futuro. Assusta-me o resultado dos exames, assusta-me a minha vida profissional que engloba fazer muito esforço físico, assusta-me o não ser uma adulta normal e saudável. Assusta-me o facto de passar a vida a tomar medicação (prescrita pelo médico) para as dores para conseguir levar uma vida dita (quase) normal.
Já alguém passou por uma situação parecida? Como resolveram, se é que resolveram?


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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Uma manhã diferente - quinta do bonaparte

E se pudessem ir com os miúdos conhecer e tratar de animais e correr em espaços verdes amplos? 
Há duns dias vi no Facebook uma publicação de uma página que se chama Quinta do Bonaparte. Diziam que iam abrir ao público, mediante marcação e atendendo apenas uma família de cada vez.
Já conhecia o espaço de nome, pois muitos colégios da zona costumam ir lá com as suas crianças. Nunca tinha lá ido, mas pareceu-me perfeito para este desconfinamento: ar livre e sem contacto com outras pessoas, animais e muito espaço para o miúdo correr.
A quinta tem diversos animais: pónei, cavalo, galinhas, patos, perus, porquinhos da índia, coelho, porco e  peixes. Tem ainda diversas árvores de frutos e plantas. O facto de ser só uma família de cada vez faz com que exista uma maior interação quer com o tratador quer com os animais. Conseguimos esclarecer diversas dúvidas, alimentar os animais e escovar alguns animais. É ainda permitido passear de pónei, mas claro que o Gustavo teve medo.
Não existe um preço fixo, cada família vai por doação e doa aquilo que quiser ou conseguir doar. A quinta situa-se na Trafaria e as marcações são obrigatórias e feitas para o seguinte email: quintadobonaparte@gmail.com .

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terça-feira, 19 de maio de 2020

Educadoras e auxiliares de creche a utilizarem máscaras? Sim, por elas e principalmente pelas crianças.

Sou educadora de creche, e como tal estou perfeitamente consciente do que poderá significar para um bebé não reconhecer os seus cuidadores, por estarem com a cara tapada. Fui das que temeram que os pequeninos ao nosso cuidados chorassem o dia inteiro por não conseguirem fazer corresponder um rosto conhecido àquela máscara. 
Foi com uma enorme alegria que ontem contactei com diversas colegas de diversas instituições, onde educadoras e auxiliares demonstraram um enorme alívio por tudo ter corrido sobre rodas (dentro do possível, e muito melhor do que o esperado).
Muitas crianças não choraram nem de manhã a serem entregues, e esticaram os braços para a sua cuidadora reproduzindo o seu nome da forma atrapalhada e doce do costume. Uma ou outra criança chorou de manhã, claro, como já o fazia antes de tudo isto.
Hoje deparei-me nas redes sociais com um tema em debate: uma psicóloga que se assume contra a utilização de máscaras na creche. Custou-me um bocado ler aquilo que escreveu, e ainda me custou mais ver colegas educadoras de acordo com a senhora. Chocou-me , posso dizer isso, o modo como a psicóloga em questão inicia o seu texto, em maiúsculas, como gritando uma verdade absoluta: NÃO SOU A FAVOR DO USO DE MÁSCARA POR PARTE PARTE PESSOAL QUE TRABALHA EM CRECHE (…) , afirma Zulima Maciel. Continua referindo que se trata de uma opinião fundamentada com base em conhecimento científico, referindo que a mesma, é a própria fonte dessa informação científica. 
É claro que as crianças precisam de ver rostos, tal como a mesma refere, é claro que a maioria estaria mais tranquila se os adultos não utilizassem máscaras. É claro que o uso de máscara impede a criança de conseguir absorver uma data de informação, nomeadamente, reconhecer emoções. Também parece claro que a criança, ao não identificar um rosto, se possa sentir insegura. Estamos de acordo, e julgo que todas as educadoras também.
O que me parece, é que há uma coisa importantíssima a ter em conta: a SAÚDE. Continuamos no meio de uma pandemia, da qual ainda pouco se sabe.
É inadmissível, que se sugira, ainda mais publicamente, que os profissionais de educação não utilizem proteção. E digo mais. É um DIREITO que eu tenho, em me proteger a mim, às minhas colegas, e à minha família. Mas mais importante ainda, é um DEVER, proteger as crianças que estão ao meu cuidado! É com uma grande preocupação que vejo mais colegas do que desejava a apoiarem a não utilização de máscaras durante o seu dia de trabalho. E fico um pouco confusa quando também há pais, a proporem que quem cuida dos seus filhos não utilize máscaras. É que reparem, as máscaras, estão a proteger os seus filhos! 
Posto isto, algumas colegas sugeriram que em lugar da máscara recomendada pela DGS, se utilize uma máscara em plástico transparente que se encontra a ser fabricada em Leiria. Fui ver a máscara em questão e só pensei: onde raio, aquilo protege o que quer que seja?! Entendo a intenção, com uma máscara transparente as crianças iriam ver o rosto do adulto, e era ótimo que efetivamente se conseguisse fabricar uma máscara segura e aprovada pelas entidades competentes que permitissem ter o rosto à mostra.  A questão é, aquilo, nem de máscara pode ser chamado.
Mas bom , não sou entendida no assunto, por isso nada melhor do que me dirigir a quem de mais entendido pode haver. Questionei então uma médica pediatra de nome Filipa Marujo, médica interna no Hospital Dona Estefânia, à qual mostrei a máscara de plástico em questão, e se esta seria uma boa opção. A resposta foi um redondo "Não!" Questionei ainda se seria uma boa opção como viseira, a resposta foi a mesma, e cito "Isso não é máscara, nem é viseira." Consegui também chegar à fala com uma enfermeira que trabalha num centro de saúde, que preferiu anonimato, que também se mostrou chocada por haver quem recomende uma máscara que segundo a mesma, "Não oferece qualquer tipo de proteção, nem para quem usa nem para os outros".  
Para terminar, esta coisa de plástico transparente, não está de modo algum aprovada pela DGS.
Se eu gosto de utilizar máscara? Credo, nem nas compras rápidas, quanto mais um dia inteiro. Só me imagino a ter ataques de pânico. Se tenho de o fazer, para proteção dos outros, nomeadamente das crianças? Sim, tenho!
Espero sinceramente que em breve, possamos deixar de utilizar máscara, embora não acredite nisso. Até lá, pela saúde de todos, temos de seguir as orientações que nos foram dadas para o trabalho em creche, e isso engloba o uso de máscaras certificadas. 
E quanto aos traumas que a utilização de máscara pelos profissionais de educação, pode ou não causar em crianças pequenas, esses mesmos profissionais saberão gerir o dia a dia em creche da melhor forma possível para evitar, tanto quanto seja possível, que isso aconteça.

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Auxiliar de educação C.A, no primeiro dia de regresso ao trabalho, com uma máscara eficaz.

A "máscara" defendida por bastantes pessoas. É totalmente ineficaz e completamente desaconselhada para o trabalho em creche (e noutras situações também, diria eu.)