terça-feira, 24 de abril de 2018

Em defesa das educadoras.

Não é nada fácil ser educadora nos dias de hoje.
Este texto não é uma queixa. É sobre factos na vida de muitas educadoras.
Sinto que esta profissão é cada vez menos valorizada. Mas conto-vos algo sobre as educadoras.
Nós tratamos cada menino como se fosse nosso. Nós damos colo, amor e carinho.
A frase mais triste que um menino já me disse, tinha eu acabado de sair da faculdade, foi "Gostava que fosses a minha mãe."
Quando um menino se magoa o nosso coração cai ao chão. Ontem o meu filho que tem 15 meses, não sei como deu um mortal ao sair do sofá e aterrou no chão. Acreditam que lidei com isso com muito mais calma do que lido com são os filhos dos outros? É uma responsabilidade brutal.
Sabem que quando deixamos de seguir um grupo choramos? Que quando os voltamos a ver passados uns anos na rua nos apetece ir a correr pegar neles e abraça-los mas que até temos vergonha?
Têm noção das vezes em que abdicamos das horas de almoço? Muitas. Porque a criança X chora que quer a mãe e não a conseguimos deixar. Ficamos ali até adormecer para a sesta. Porque a criança Y está a arder em febre e só descansamos quando conseguimos contactar os pais. 
Sabemos que o menino A não come tomate porque não gosta, mas que o menino B está só num dia de birra. Sabemos de quem são quase todos os casacos da sala. E todos os chapéus. E todos os brinquedos.
Aqueles trabalhos fofinhos que os meninos fazem para o dia da mãe ou do pai, são muitas vezes, principalmente em escolas públicas, feitos com materiais que a educadora compra com o seu dinheiro, porque quer.
Aqueles miminhos que as crianças recebem quando alcançam um feito importante como deixar a chucha, também é a educadora que compra, porque quer.
E todas as vezes que faltamos às festas da escola dos nossos filhos, porque estamos na festa da nossa escola com os filhos dos outros? Não é fácil.
Recentemente saí dum emprego onde estava como professora por acaso, e não como educadora. Ainda ontem estive mais uma vez que tempos a falar com uma mãe sobre as notas dos seus filhos e sobre a escola para onde a mais velha vai mudar. 
Recentemente fui ver uma exposição que achei que um ex aluno ia gostar, e liguei à mãe dele só para dizer isso. 
Vou a todas as festas de aniversário para que sou convidada pelas famílias dos meus meninos, porque efetivamente faço parte da vida deles. Passo mais de oito horas por dia com eles. Gosto mesmo, mas mesmo deles, e de estar presente na vida deles. É um privilégio do caraças, conseguir manter contacto com eles e com as suas famílias fora do meu horário de trabalho.
Porque eu posso sair da vida deles profissionalmente, mas eles continuam no meu coração.
E ser educadora é dar tudo de nós, sem esperar nada em troca.
E não esquecer as auxiliares que trabalham connosco e a quem devemos tanto. Muito deste texto também se aplica a elas.


Já lá vão 10 aninhos disto.


8 comentários:

  1. Lindo texto! Revi-me nele, valorizo muito o trabalho de todas as educadoras e ser valorizado também depende de nós. Um dos meus sonhos é trabalhar com colegas tão disponíveis para as crianças como a colega. Continuação e bom trabalho!Felicidades!

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  2. Belo texto, acrescento que apesar de não reconhecerem o tempo de serviço em Creche, nunca abdicarei de o fazer, amo demais o que faço <3

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  3. Eu não sou educadora, sou auxiliar e revi-me neste texto! Sou mãe de 4 filhas, mas tenho muitos outros do coração. E fico cheia de orgulho e de felicidade, quando, cada menino que passou por mim, nos meus 18 anos de vida profissional, realiza os seus sonhos e é feliz. Também ouvi já algumas vezes a frase: " queria que fosses a minha mãe" , e de fato a minha filha caçula de 7 anos chegou a ter ciúmes. ��
    A sr educadora conseguiu transmitir neste texto a essência do que hoje em dia é um educador. Parabéns

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  4. Incrivel!! Até parece que são as educadoras que fazem tudo isso.
    Vejo este texto mais adequado a uma auxiliar.
    Não vou dizer que todas as educadoras sejam como eu sei que sao, porque já vivi essas experiências, uma coisa é certa, há grandes educadoras, e há educadoras que nem o nome de educadoras deviam ter quando elas nem educação têm.

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    1. Verdadeiras as suas palavras mas, vamos valorizar os educadores com letra grande.
      Cumprimentos de uma colega de profissão

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    2. No meu caso, sim, faço isso tudo :) Há grandes auxiliares, e há outras que envergonham a classe. Simples.

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  5. Parabéns para todas as educadoras que o fazem por amor. Sei do que falo, pois a minha filha optou por essa fantástica e tão importante profissão. Só quem está por dentro, ou muito presente, consegue perceber a importância e responsabilidade do vosso trabalho. Estamos a falar (apenas) das primeiras fases dos nossos filhos que fará toda a diferença par as suas futuras vidas… Obrigado.

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  6. Lindo e verdadeiro. Não sou educadora, mas revi a minha nesse texto. É triste que se desvalorize uma profissão tão nobre. Tenho "apenas" 23 anos, e até aos 11 anos, a turma de j.i que frequentei tinha uma festa anual por ter sido tão marcante. Ainda hoje, costumo encontrar a minha querida educadora e sinto o seu carinho, ao rever as fotos e os trabalhos uma enorme nostalgia.Grande parte do que sou hoje devo-a a ela e a duas auxiliares tão importantes quanto ela. Parabéns!

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