terça-feira, 19 de maio de 2020

Educadoras e auxiliares de creche a utilizarem máscaras? Sim, por elas e principalmente pelas crianças.

Sou educadora de creche, e como tal estou perfeitamente consciente do que poderá significar para um bebé não reconhecer os seus cuidadores, por estarem com a cara tapada. Fui das que temeram que os pequeninos ao nosso cuidados chorassem o dia inteiro por não conseguirem fazer corresponder um rosto conhecido àquela máscara. 
Foi com uma enorme alegria que ontem contactei com diversas colegas de diversas instituições, onde educadoras e auxiliares demonstraram um enorme alívio por tudo ter corrido sobre rodas (dentro do possível, e muito melhor do que o esperado).
Muitas crianças não choraram nem de manhã a serem entregues, e esticaram os braços para a sua cuidadora reproduzindo o seu nome da forma atrapalhada e doce do costume. Uma ou outra criança chorou de manhã, claro, como já o fazia antes de tudo isto.
Hoje deparei-me nas redes sociais com um tema em debate: uma psicóloga que se assume contra a utilização de máscaras na creche. Custou-me um bocado ler aquilo que escreveu, e ainda me custou mais ver colegas educadoras de acordo com a senhora. Chocou-me , posso dizer isso, o modo como a psicóloga em questão inicia o seu texto, em maiúsculas, como gritando uma verdade absoluta: NÃO SOU A FAVOR DO USO DE MÁSCARA POR PARTE PARTE PESSOAL QUE TRABALHA EM CRECHE (…) , afirma Zulima Maciel. Continua referindo que se trata de uma opinião fundamentada com base em conhecimento científico, referindo que a mesma, é a própria fonte dessa informação científica. 
É claro que as crianças precisam de ver rostos, tal como a mesma refere, é claro que a maioria estaria mais tranquila se os adultos não utilizassem máscaras. É claro que o uso de máscara impede a criança de conseguir absorver uma data de informação, nomeadamente, reconhecer emoções. Também parece claro que a criança, ao não identificar um rosto, se possa sentir insegura. Estamos de acordo, e julgo que todas as educadoras também.
O que me parece, é que há uma coisa importantíssima a ter em conta: a SAÚDE. Continuamos no meio de uma pandemia, da qual ainda pouco se sabe.
É inadmissível, que se sugira, ainda mais publicamente, que os profissionais de educação não utilizem proteção. E digo mais. É um DIREITO que eu tenho, em me proteger a mim, às minhas colegas, e à minha família. Mas mais importante ainda, é um DEVER, proteger as crianças que estão ao meu cuidado! É com uma grande preocupação que vejo mais colegas do que desejava a apoiarem a não utilização de máscaras durante o seu dia de trabalho. E fico um pouco confusa quando também há pais, a proporem que quem cuida dos seus filhos não utilize máscaras. É que reparem, as máscaras, estão a proteger os seus filhos! 
Posto isto, algumas colegas sugeriram que em lugar da máscara recomendada pela DGS, se utilize uma máscara em plástico transparente que se encontra a ser fabricada em Leiria. Fui ver a máscara em questão e só pensei: onde raio, aquilo protege o que quer que seja?! Entendo a intenção, com uma máscara transparente as crianças iriam ver o rosto do adulto, e era ótimo que efetivamente se conseguisse fabricar uma máscara segura e aprovada pelas entidades competentes que permitissem ter o rosto à mostra.  A questão é, aquilo, nem de máscara pode ser chamado.
Mas bom , não sou entendida no assunto, por isso nada melhor do que me dirigir a quem de mais entendido pode haver. Questionei então uma médica pediatra de nome Filipa Marujo, médica interna no Hospital Dona Estefânia, à qual mostrei a máscara de plástico em questão, e se esta seria uma boa opção. A resposta foi um redondo "Não!" Questionei ainda se seria uma boa opção como viseira, a resposta foi a mesma, e cito "Isso não é máscara, nem é viseira." Consegui também chegar à fala com uma enfermeira que trabalha num centro de saúde, que preferiu anonimato, que também se mostrou chocada por haver quem recomende uma máscara que segundo a mesma, "Não oferece qualquer tipo de proteção, nem para quem usa nem para os outros".  
Para terminar, esta coisa de plástico transparente, não está de modo algum aprovada pela DGS.
Se eu gosto de utilizar máscara? Credo, nem nas compras rápidas, quanto mais um dia inteiro. Só me imagino a ter ataques de pânico. Se tenho de o fazer, para proteção dos outros, nomeadamente das crianças? Sim, tenho!
Espero sinceramente que em breve, possamos deixar de utilizar máscara, embora não acredite nisso. Até lá, pela saúde de todos, temos de seguir as orientações que nos foram dadas para o trabalho em creche, e isso engloba o uso de máscaras certificadas. 
E quanto aos traumas que a utilização de máscara pelos profissionais de educação, pode ou não causar em crianças pequenas, esses mesmos profissionais saberão gerir o dia a dia em creche da melhor forma possível para evitar, tanto quanto seja possível, que isso aconteça.

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Auxiliar de educação C.A, no primeiro dia de regresso ao trabalho, com uma máscara eficaz.

A "máscara" defendida por bastantes pessoas. É totalmente ineficaz e completamente desaconselhada para o trabalho em creche (e noutras situações também, diria eu.)



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