Um bebé foi atirado ao lixo. Ponto. Ele não foi simplesmente
abandonado. Não foi embrulhado num cobertor e deixado à porta dum prédio ou de
um café na esperança de que alguém lhe desse uma vida melhor. Isso, eu talvez
conseguisse entender (talvez). Foi atirado para o meio do lixo, despido, numa
noite fria de novembro.
Tento não ser julgadora, porque não sei nada sobre a
progenitora dessa criança. Ainda assim um ato tão hediondo deixa-me sem
predisposição para tentar perceber o que quer que seja. Não sei das dores dessa
mulher. Não sei se foi violentada nem se a vida lhe virou as costas. O que eu
sei, é que há muitas pessoas com vidas incrivelmente miseráveis e que não
tentam matar um bebé.
Acho incrível como a opinião de imensas pessoas mudou ao
saber que essa mulher não tinha casa. Se primeiro a queriam ver morta numa
fogueira para pagar pelo que fez, ao saberem que era sem abrigo já acham que a
culpa é de quem não lhe deu a mão. Já li comentários de pessoas a sugerirem que
fosse dada uma casa a essa mulher para ter o seu bebé de volta. Como se o facto
de ela poder ser ou estar transtornada, possa servir de desculpa para aquilo
que fez.
Quando um animal é deitado ao lixo, o Facebook enche-se de
comentários de ódio, e com razão, para com a pessoa que fez tal barbaridade.
Ninguém quer saber o motivo que levou a pessoa a cometer esse crime. Ninguém quer
saber que pessoa é essa, de onde vem, ou aquilo porque passou. Mas um bebé… pff…
é só um bebé.
Eu já me pus a tentar entender essa mãe. Já fiz mil e uma
teorias na minha cabeça sobre a situação de modo a torná-la menos macabra, se é
que isso é possível. Já pensei que talvez a mulher após parir a criança a tenha
julgado morta e tenha entrado em desespero. Já pensei que seja mentalmente
doente e que tenha sido agredida sexualmente. Já pensei de tudo, para tentar
conseguir sentir alguma empatia pela autora do crime, ou para pelo menos não
lhe apontar tanto o dedo.
Depois começo a imaginar o meu filho, acabado de nascer, a
precisar de estar enroscado no meu peito nu enquanto aprende a mamar. Aquele
pobre ser precisava do mesmo.
Podem ter realmente existido falhas que permitiram uma
mulher morar na rua enquanto estava grávida, e quem sabe, mentalmente doente. Pode
e deve servir de alerta para situações futuras. Mas por favor, o que importa
agora é que as pessoas não esqueçam, que a vítima aqui, é aquele recém-nascido,
que já amava quem o pariu.
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Fotografia via google. |
Identifico me com cada palavra que escreveu. Gosto imenso das suas partilhas.
ResponderEliminarTão bom ler isso! Beijinhos
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