terça-feira, 14 de julho de 2020

A minha história no vosso blogue - Ter um filho estando infetada com Covi19

Tenho 29 anos, e esta gravidez foi uma total surpresa e inesperada.
Queria dar um irmão a Carolina, mas talvez apenas para o próximo ano ou seguinte. Não estava nos meus planos engravidar já, e muito menos nos planos do pai. Em Abril de 2019 fui operada ao colo do útero e por indicação da médica comecei a usar o anel vaginal desde que tinha sido detetada uma anomalia (Outubro de 2018). Fazia anéis contínuos, e nunca falhei uma troca ou comportamento de risco. Em Agosto de 2019, senti-me mal nas férias e fui parar ao hospital. Acharam que era algo que comi.
Passadas duas semanas, liguei a médica a dizer que algo estava errado e que continuava com dores e a barriga estava inchada. Pediu para fazer um teste de gravidez e deu logo positivo. Fiquei em choque! Quando me dataram a gravidez, estava eu de oito semanas, garantiram que era apenas um bebé. Quando mais para a frente me disseram que afinal eram dois, foi mais um choque para mim e para o meu marido. Nunca imaginei viver uma pandemia, muito menos grávida. Segui todas as recomendações e orientações e apenas saía de casa para ir a consultas. Quando chegou a altura de fazer o teste ao Covi19, estava tranquila e grávida de 36 semanas. Nada me preparou para o que se seguiu: o teste deu positivo. Soube do teste através dum telefonema. Nesse mesmo telefonema, foi-me explicado que devido à situação do estado de emergência, os meus bebés iriam nascer de cesariana sem a presença do pai. Foi-me dito também que os bebés seriam levados para a enfermaria e que eu não teria qualquer contacto com eles até o teste dar negativo. Isto foi em Março, portanto no meio do maior caos e pânico que se vivia no país, principalmente por parte de profissionais de saúde. Até à data marcada para o parto, estive em casa fechada no quarto, isolada do meu marido e da minha filha mais velha. No fim da gravidez, infetada, assustada, e totalmente sozinha. Tinha-os ali, mas não os tinha. O dia do parto foi penoso. Cheguei ao hospital com o meu marido e não houve um abraço ou um beijo. Apenas muitas lágrimas à distância. Senti-me completamente sozinha apesar de toda a equipa médica ser espetacular. Os meus filhos nasceram e mal os vi, não lhes toquei. Não desejo a ninguém a dor psicológica que senti. Fui mãe mas não me senti mãe. Os meus filhos foram levados como se eu fosse um perigo gigante para eles (e calhar era mesmo). Só me foi permitido conhecer os meus filhos uma semana depois, na data da alta, quando o meu teste deu negativo duas vezes. Foram uns dias negros. Olhava para os meus filhos e não sentia nenhuma ligação com eles. A amamentação foi dura, parecia que eles também não sentiam ligação nenhuma comigo. Agora as coisas vão melhorando e adoro a minha família aumentada, mas nunca vou esquecer os tempos duros que vivi. Com este testemunho, pretendo dar força a futuras mães que possam vir a passar pelo menos. Não é fácil, não vou mentir, mas tudo passa e se compõe.


Ana Silva, 29 anos, Matosinhos 

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Os gémeos hoje em dia, com tudo a ficar bem, dentro do possível.

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